PARQUE VAZIO
Parque vazio
momentos de chuva
hoje as árvores não cantam
Não há vento
Tudo queda inerte
Trago em silêncio
apatia e luz
dores da inércia
Tumulto solitário
Os anjos dourados
não nos visitam mais
Sobre os meus ombros
a manhã cinzenta desliza
Não há ninguém nos gramados
Chove como se fosse
a primeira tempestade
Vânia Magalhães
No sintagma “parque vazio” uma oposição: parque sugere espaço aberto e amplo, portanto, de muitas pessoas; parque é lugar de pra-zer, de alegria; parque pode ser parque de diversões e, então, lugar de festa e de infância...No entanto, este parque se encontra vazio e repleto de negações (árvores não cantam; não há vento;anjos não nos visitam; ninguém nos gramados), além de palavras que indicam imobilidade (inerte, apatia, silêncio, inércia). Esta oposição reaparece em “tumulto solitário”, o verso conclusivo da primeira estrofe.
Neste dia, em que o cinzento predomina sobre o dourado, o eu líri-co se mostra em comunhão com a natureza que chove e que, talvez por isto, tenha afugentado as pessoas do “parque”. No símile dos versos finais, vemos a insinuação de que aquela não é a primeira “tempestade” e certamente não seria a última. Cabe aqui lembrarmos que as tempestades, tanto as físicas quanto as simbólicas, servem também para lavar o corpo e os acontecimentos.
De olhos lavados, podemos ver coisas diferentes e seguir livres da infância, dos parques e também dos anjos.
Marcus Vinicius Quiroga
Bela e procedente interpretação.
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