quarta-feira, 6 de julho de 2011

LEIAM PORTAIS, DE VÂNIA DE MAGALHÃES

PARQUE VAZIO


Parque vazio
momentos de chuva
hoje as árvores não cantam
Não há vento
Tudo queda inerte
Trago em silêncio
apatia e luz
dores da inércia
Tumulto solitário

Os anjos dourados
não nos visitam mais
Sobre os meus ombros
a manhã cinzenta desliza
Não há ninguém nos gramados
Chove como se fosse
a primeira tempestade

Vânia Magalhães



No sintagma “parque vazio” uma oposição: parque sugere espaço aberto e amplo, portanto, de muitas pessoas; parque é lugar de pra-zer, de alegria; parque pode ser parque de diversões e, então, lugar de festa e de infância...No entanto, este parque se encontra vazio e repleto de negações (árvores não cantam; não há vento;anjos não nos visitam; ninguém nos gramados), além de palavras que indicam imobilidade (inerte, apatia, silêncio, inércia). Esta oposição reaparece em “tumulto solitário”, o verso conclusivo da primeira estrofe.
Neste dia, em que o cinzento predomina sobre o dourado, o eu líri-co se mostra em comunhão com a natureza que chove e que, talvez por isto, tenha afugentado as pessoas do “parque”. No símile dos versos finais, vemos a insinuação de que aquela não é a primeira “tempestade” e certamente não seria a última. Cabe aqui lembrarmos que as tempestades, tanto as físicas quanto as simbólicas, servem também para lavar o corpo e os acontecimentos.
De olhos lavados, podemos ver coisas diferentes e seguir livres da infância, dos parques e também dos anjos.


Marcus Vinicius Quiroga

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