terça-feira, 26 de março de 2013

NESSE ROCK ESTAMOS TODOS JUNTOS



Meu Caro Amigo

(Chico Buarque)

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Meu caro amigo eu não pretendo provocar
Nem atiçar suas saudades
Mas acontece que não posso me furtar
A lhe contar as novidades

Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate o sol

Mas o que eu quero é lhe dizer que 
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A LISTA
(Osvaldo Montenegro)

Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...
............................................................
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?


Amigo é Para Essas Coisas
(Aldir Blanc)

- Salve!
- Como é que vai?
- Amigo, há quanto tempo!
- Um ano ou mais...
- Posso sentar um pouco?
- Faça o favor
- A vida é um dilema
- Nem sempre vale a pena...
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- Adeus
- Toma mais um
- Já amolei bastante
- De jeito algum!
- Muito obrigado, amigo
- Não tem de quê
- Por você ter me ouvido
- Amigo é prá essas coisas
- Tá...
- Tome um cabral
- Sua amizade basta
- Pode faltar
- O apreço não tem preço, eu vivo ao Deus dará



Que Bom Amigo

Que bom, amigo
Poder saber outra vez que estás comigo
Dizer com certeza outra vez a palavra amigo
Se bem que isso nunca deixou de ser
Que bom, amigo
Poder dizer o teu nome a toda hora
A toda gente
Sentir que tu sabes
Que estou pro que der contigo
Se bem que isso nunca deixou de ser
Que bom, amigo
Saber que na minha porta
A qualquer hora
Uma daquelas pessoas que a gente espera
Que chega trazendo a vida
Será você
Sem preocupação

Canção Da América

(Milton Nascimento)


Amigo é coisa para se guardar
No lado esquerdo do peito
Mesmo que o tempo e a distância digam "não"
Mesmo esquecendo a canção
O que importa é ouvir
A voz que vem do coração

Hey Amigo

(O Terço)


Hey amigo, cante a canção comigo!
Hey amigo, cante a canção comigo!
É nada!
É quase!
É tudo!

Hey amigo, cante a canção comigo!
Hey amigo, cante a canção comigo!
Metade é parte de um todo!

Nesse rock estamos todos juntos!
Nesse rock estamos todos juntos!

 Amigos

(O Terço)


Nos cinco dedos de cada mão
Eu contei a minha legião de amigos
Sendo que cada nome que eu lembrei
Me lembrou que há muito tempo
Eu não vejo essa gente.
Mas como eu queria saber...
Eu não sei se é possível reviver amizades,
Não sei se cada amigo que me escuta me entende,
Não sei se ainda temos os mesmos defeitos,
Não sei...
Faz tanto tempo!


Último Desejo

(Noel Rosa)

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Se alguma pessoa amiga
Pedir que você lhe diga
Se você me quer ou não
Diga que você me adora
Que você lamenta e chora
A nossa separação

Às pessoas que eu detesto
Diga sempre que eu não presto
Que meu lar é o botequim
Que eu arruinei sua vida
Que eu não mereço a comida
Que você pagou pra mim

                     A propósito (ou não)


            Minha avó contava uma história de uma mulher que foi jogar a água suja da bacia (era um tempo em que os homens ainda se banhavam em bacias) fora e jogou junto a criança.  Coisas da minha vó.
            Estas letras se referem ao mesmo tema. Em Caros amigos, a ironia de versos que devem ser lidos tendo os tempos de repressão como pano de fundo. A forma de carta já indicia o exílio, pois era tempo de exílios, dentro e fora do país.
        Em A lista, a letra propõe a autorreflexão, pede que o ouvinte/leitor se olhe no espelho. Mas não vale trapacear.
Nada de maquilagem. Ela fala em “grandes amigos, ou seja, conhecidos, colegas e amigos do facebook não entram na lista
        Depois Aldir, em uma bem bolada letra de bar, faz versos
só com as falas entrecortadas de um diálogo múltiplo. O tom deprê, típico de fim de noite, mostra a filosofia de botequim (“A vida é um dilema/Nem sempre vale a pena”). Por falar em filosofia, a melhor luva de pelica é usada por Noel, neste dístico
irretocável: “Às pessoas que eu detesto/Diga sempre que eu não presto”.
        Já Milton, na esteira amorosa dos anos 70, traz o lugar-comum piegas (“O que importa é ouvir/ a voz que vem do coração”) e a possível e heroica esperança em:” Uma daquelas pessoas que a gente espera/Que chega trazendo a vida/Será você”.
        Por fim, os rapazes do Terço, mais realistas, na simplicidade oral de seus versos, concluem sem expectativa que “já faz tanto tempo”. E é claro que todos sabemos onde o rock errou.
     Minha avó contava uma história de uma mulher que foi jogar a água suja da bacia (era um tempo em que os homens ainda se banhavam em bacias) fora e jogou junto a criança.  Coisas da minha vó.











Marcus Vinicius Quiroga 

domingo, 17 de março de 2013



THE HOLLOW MEN

Não queriam a vida.
Bastava-lhes a imagem.
Alérgicos a horizontes
não chegavam à janela.
Só miravam a paisagem
por entre câmaras e lentes
cumprindo programas
de turísticas viagens.
Nem poentes nem montes
nem sorrisos nem olhares
confiavam à memória.
Queriam fotos nos álbuns
e carrosséis de slides.
À noite, cegos, não viam
o rastro do dia nos rostos
em torno e, lábios de pedra,
não riscavam a faísca
do diálogo nem o fogo
generoso do convívio.
Preferiam o amor da novela.
Dissolvidos em poltronas
em frente à tela acesa
acordados dormiam
despidos de si mesmos.

                                                   Astrid Cabral

                                 Reparemos no vocabulário do poema: imagem, janela, miravam, câmaras, lentes, fotos álbuns, slides,cegos, viam, tela, acesa. Todas as palavras se referem ao olhar. Neste texto, dá-se uma inversão: o olhar que seria o primeiro passo para a compreensão das coisas passa a significar alienação, cujo exemplo máximo  é a novela de televisão.
                                 A imagem se sobrepõe à vida. O registro do momento pela câmara importa mais  do que o registro pelo olhar e pela memória. Mostrar a viagem  feita dá mais prazer do que fazer a viagem.
                                No paradoxo final (acordados dormiam), a contradição de certos homens que se despem de si mesmos, que se esvaziam nas imagens, nas fotos, nas telas e, por isto, não conseguem estabelecer o diálogo com o outro.            


M


quinta-feira, 7 de março de 2013

TINHA UM ROCK (PROGRESSIVO) NO MEIO DO CAMINHO





         Quem aí se lembra de O terço, grupo que teve várias formações, e que marcou uma época?Parece que de vez em quando ainda se encontram. É isto: todos nós de vez em quando também ainda nos encontramos. E a sonoridade das canções deste grupo me traz reencontros, comigo mesmo, por que não?.
      Seus integrantes envelheceram, é óbvio, mas suas canções continuam se identificando com a juventude de qualquer idade. Vejo que há canções que permanecem jovens e outras, que já nascem idosas, independente da idade de seu compositor. O terço terá sempre 20 anos.
       Talvez suas músicas me agradassem mais do que suas letras e compunham o fundo musical de um tempo, ao lado   dos clubes das esquinas.
    Vale mais a pena ouvir as letras cantadas do que lê-las aqui, mas eis duas delas.

Adormeceu

Adormeceu
Antes do fim do dia
Entre a rotina do lugar
Porém a vida ainda se faz
Num fraco suspirar.
Reconheceu
A paz que ainda se esconde
Por trás dos mantos da razão
Adormeceu pra não morrer
Morrendo sem saber.
Hey, hey! Hey, hey!
Amor teus brancos sonhos
Se alguém não tem visão
Te abriga.
Adormeceu
Antes do fim do dia
Entre a rotina do lugar
Porém a vida ainda se faz
Num fraco suspirar.
Reconheceu
A paz que ainda se esconde
Por trás dos mantos da razão
Adormeceu pra não morrer
Morrendo sem saber.
Hey, hey! Hey, hey!
Amor teus brancos sonhos
Se alguém não tem visão
Te abriga.
Adormeceu.

O VISITANTE

Vá, vista o que tem
já vai chegar vindo de lá
vem ter de nós boas ou más
vem para saber quem quer viver
Vá, vista o melhor
se que é ainda tem
guardado em pó
lembrando quem você já foi
e se perdeu, e se acabou
um jogral pra contar nossa dor
ensaiar na estação a  sessão final
Vem, que hoje haverá
banda, canção, festa no ar
Abre o portão
se que é ainda vê
neste viver uma razão

   Lidas as duas letras, percebo que em ambas há a palavra razão, com sentidos diferentes.Qual delas tem razão?
   Pela lei do mercado, diz o chavão que o freguês tem sempre razão. Mentira, o mercado é que tem sempre razão. Mas, na contracorrente, há quem ainda veja neste viver uma razão ou nestas canções uma travessia, para além da rotina da maioria dos lugares.

Marcus Vinicius Quiroga