THE
HOLLOW MEN
Não queriam a vida.
Bastava-lhes a imagem.
Alérgicos a horizontes
não chegavam à janela.
Só miravam a paisagem
por entre câmaras e lentes
cumprindo programas
de turísticas viagens.
Nem poentes nem montes
nem sorrisos nem olhares
confiavam à memória.
Queriam fotos nos álbuns
e carrosséis de slides.
À noite, cegos, não viam
o rastro do dia nos rostos
em torno e, lábios de pedra,
não riscavam a faísca
do diálogo nem o fogo
generoso do convívio.
Preferiam o amor da novela.
Dissolvidos em poltronas
em frente à tela acesa
acordados dormiam
despidos de si mesmos.
Não queriam a vida.
Bastava-lhes a imagem.
Alérgicos a horizontes
não chegavam à janela.
Só miravam a paisagem
por entre câmaras e lentes
cumprindo programas
de turísticas viagens.
Nem poentes nem montes
nem sorrisos nem olhares
confiavam à memória.
Queriam fotos nos álbuns
e carrosséis de slides.
À noite, cegos, não viam
o rastro do dia nos rostos
em torno e, lábios de pedra,
não riscavam a faísca
do diálogo nem o fogo
generoso do convívio.
Preferiam o amor da novela.
Dissolvidos em poltronas
em frente à tela acesa
acordados dormiam
despidos de si mesmos.
Astrid Cabral
Reparemos no vocabulário do poema: imagem,
janela, miravam, câmaras, lentes, fotos álbuns, slides,cegos, viam, tela, acesa.
Todas as palavras se referem ao olhar. Neste texto, dá-se uma inversão: o olhar
que seria o primeiro passo para a compreensão das coisas passa a significar alienação,
cujo exemplo máximo é a novela de
televisão.
A imagem se sobrepõe à vida. O registro do
momento pela câmara importa mais do que o registro pelo olhar e pela
memória. Mostrar a viagem feita dá mais
prazer do que fazer a viagem.
No
paradoxo final (acordados dormiam), a contradição de certos homens que se
despem de si mesmos, que se esvaziam nas imagens, nas fotos, nas telas e, por
isto, não conseguem estabelecer o diálogo com o outro.
M
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