É tarde, Leonard
Todas as notas já se foram. A porta do bar
está baixa, mas ainda
entreaberta
Me ofereço um trago
a esta hora
e imagino violinos
ao redor
A canção nos escapa entre cordas
Um sax interrompe ontem,
Leonard
Um lance de azar não abolirá
o ocaso
Os dedos exaustos
executam uma espécie de lamento
No entanto, não há uma gota de sangue
em cada partitura
Já que a ironia desfez
as pistas, as impressões digitais,
lembranças
se dependuram
no ar
Leonard,
como se escreve uma carta
que aparentemente não
diga nada?
De que sombra surge seu sobretudo
com flocos de neve
e versos saindo do bolso?
Mas não vejo o destinatário
e o eu do remetente é outro
Não olhe para trás agora
O tempo apagou o rasto,
amarelou as palavras da senha,
rasgou o desenho
do mapa
Nesta plataforma vazia
em alguma ponto da Europa,
suponha nas mãos só moedas
de outra época
Fios se tecem,
repetem antigas tapeçarias,
que não serão postas nas paredes
Os fragmentos
se acumulam nos dias
e nem sempre formam um mosaico legível
Leonard,
o que não se explica no discurso
segue
como se fosse ou não fosse absurdo
Leonard,
talvez não seja sensato,
mas façamos um acordo
(que importa qual de nós já esteja morto?)
O tempo bate a porta
e tranca
as entrelinhas em um envelope
Mais um trago,
mas que seja o último
A máquina de escrever
o violão
ou o sobretudo
às vezes podem ser úteis
Marcus Vinicius Quiroga
Um poema belo e intenso, que nos faz ouvir o som das cordas do violão e da melancolia.
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