quarta-feira, 12 de novembro de 2014

SOPHIA DE MELO BREYNER E A IMAGEM CONCRETA



Sophia compartilha com João Cabral o rigor dos versos, a secura da composição. O próprio João Cabral de Melo Neto disse-lhe, em Sevilha: ''Gosto muito da sua poesia: tem muito substantivo concreto.'' E Sophia de certa forma responde, em ''Arte Poética II'': ''O artesanato das artes poéticas nasce da própria poesia à qual está consubstancialmente unido. Se um poeta diz 'obscuro', 'amplo', 'barco', 'pedra' é porque estas palavras nomeiam a sua visão de mundo, a sua ligação com as coisas.(...).E é da obstinação sem tréguas que a poesia exige, que nasce o 'obstinado rigor' do poema. O verso é denso, tenso como um arco, exactamente dito, porque os dias foram densos, tensos como arcos, exactamente vividos. O equilíbrio das palavras entre si é o equilíbrio dos momentos entre si.'' Por esse rigor muitos compreendem sua arte como apolínea, pensando na relação entre Dionísio e Apolo, tratada por Nietzsche em O nascimento da tragédia. Sophia acredita que a poesia perde toda a força se tiver uma palavra desnecessária. Num poema, escreve: ''Pinças assépticas/ Colocam a palavra-coisa/ Na linha do papel/ Na prateleira das bibliotecas.''
 

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

OS BARCOS





Os Argonautas    Caetano Veloso

O Barco!
Meu coração não aguenta
Tanta tormenta, alegria
Meu coração não contenta
 
O dia, o marco, meu coração
O porto, não!...
Navegar é preciso
Viver não é preciso...(2x)

O Barco!
Noite no teu, tão bonito
Sorriso solto perdido
 
Horizonte, madrugada
 
O riso, o arco da madrugada
 
O porto, nada!...
Navegar é preciso
Viver não é preciso (2x)

O Barco!
O automóvel brilhante
 
O trilho solto, o barulho
 
Do meu dente em tua veia
 
O sangue, o charco, barulho lento
 
O porto, silêncio!...
Navegar é preciso
Viver não é preciso...(6x)

 

Movimento Dos Barcos    Jards Macalé


Tô cansado
E você também
Vou sair sem abrir a porta
E não voltar nunca mais
Desculpe a paz que eu lhe roubei
E o futuro esperado que eu não dei
É impossível levar um barco sem temporais
E suportar a vida como um momento além do cais
Que passa ao largo
Do nosso corpo

Não quero ficar dando adeus
Às coisas passando, eu quero
É passar com elas, eu quero
E não deixar nada mais do que as cinzas de um cigarro
E a marca de um abraço no seu corpo
Não, não sou eu quem vai ficar no porto chorando, não
Lamentando o eterno movimento
Movimento dos barcos, movimento