quinta-feira, 12 de julho de 2012









Catar Feijão

1.

Catar feijão se limita com escrever:
jogam-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.

2.

Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a como o risco.



João Cabral



     A metalinguagem é uma das  características da obra de Cabral, mas não necessariamente a mais importante, como alguns veem. O número de seus poemas de temática social é dos maiores  de nossa literatura, entretanto ele não teve a fama de poeta social.

      Aqui ele compara o ato de escrever ao de catar feijão. Faça um poema em que haja uma comparação (desdobrada como no texto acima) com a criação poética.  

Marcus Vinicius Quiroga

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