Vocação
O menino pegou uma mudinha de planta
no quintal da casa da avó.
Aprendeu na escola
que as árvores estão acabando
nas florestas.
Tomou uma decisão:
-Vou plantar árvores!
Vou ajudar as florestas!
A primeira foi uma mudinha
da casa da avó.
Num vaso de plástico,
cuidou da plantinha.
Por um bom tempo,
não faltou água,
sol e ventinho
de apartamento.
Um dia, a plantinha morreu,
seca, sem água.
O menino tinha crescido,
estava ocupado
com o vestibular,
seria futuro engenheiro florestal.
Angela
Jucá
O poema é um
exemplo do uso da linguagem denotativa
na literatura. Ou seja, todas as palavras mantêm o seu sentido primeiro,
não havendo uma metáfora sequer.
Narrativo, ele
estabelece marcações nítidas de espaço (na casa da avó, na escola, nas
florestas) e de tempo (menino e crescido) e, como os textos curtos em prosa,
apresenta uma surpresa, um final irônico.
Esta ironia é o fundamento
do poema, pois a plantinha morre por falta de cuidado da parte de um futuro
engenheiro florestal. Do ponto de vista linguístico, a ausência de conectivos
entre as quinta e sexta estrofes reforça o efeito da ironia.
A poeta Angela Jucá optou por mostrar quadros,
como em uma montagem cinematográfica, sem estabelecer nexos causais sintáticos,
deixando que o leitor fizesse as correlações. Desta forma, o
sentido não cabe em versos isolados, mas nasce das relações entre eles. Só a revelação final de que o vestibular é para engenharia
florestal (justificando o título) é que esclarece a sua intenção crítica.
Marcus Vinicius Quiroga
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