terça-feira, 28 de maio de 2013

MONTAGEM POÉTICA

                       Vocação

O menino pegou uma mudinha de planta
no quintal da casa da avó.
Aprendeu na escola
que as árvores estão acabando
nas florestas.

Tomou uma decisão:
-Vou plantar árvores!
Vou ajudar as florestas!

A primeira foi uma mudinha
da casa da avó.
Num vaso de plástico,
cuidou da plantinha.

Por um bom tempo,
não faltou água,
sol e ventinho
de apartamento.

Um dia, a plantinha morreu,
seca, sem água.

O menino tinha crescido,
estava ocupado
com o vestibular,
seria futuro engenheiro florestal.

                                                                  Angela Jucá

           
 O poema é um exemplo do uso da linguagem denotativa  na literatura. Ou seja, todas as palavras mantêm o seu sentido primeiro, não havendo uma metáfora sequer.
 Narrativo, ele estabelece marcações nítidas de espaço (na casa da avó, na escola, nas florestas) e de tempo (menino e crescido) e, como os textos curtos em prosa, apresenta uma surpresa, um final irônico.
     Esta ironia é o fundamento do poema, pois a plantinha morre por falta de cuidado da parte de um futuro engenheiro florestal. Do ponto de vista linguístico, a ausência de conectivos entre as quinta e sexta estrofes reforça o efeito da ironia.
         A poeta Angela Jucá optou por mostrar quadros, como em uma montagem cinematográfica, sem estabelecer nexos causais sintáticos, deixando que o leitor fizesse as correlações. Desta forma, o sentido não cabe em versos isolados, mas nasce das relações entre eles. Só a revelação final de que o vestibular é para engenharia florestal (justificando o título) é que esclarece a sua intenção crítica.


                                         Marcus Vinicius Quiroga   

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