domingo, 26 de maio de 2013

POEMA DE CABEÇA ERGUIDA








ERGUER A CABEÇA ACIMA DO REBANHO

Erguer a cabeça acima do rebanho
é um risco
que alguns insolentes correm.

Mais fácil e costumeiro
seria olhar para as gramíneas
como a habitudinária manada.

Mas alguns erguem a cabeça
olham em torno
e percebem de onde vem o lobo.

O rebanho depende de um olhar.


            Affonso Romano de Sant’Anna, leitor de Nietsche,  é poeta que não tem o instinto de rebanho e ,talvez por isto, foi capaz de nos oferecer este poema  que, didaticamente, deveria ser lido em salas de aula, reuniões de empresas, assembleias de toda sorte, câmaras e senados.  Ou seja, é um texto recomendável para todos os rebanhos, pois uma parada para reflexão de vez em quando não faz mal.
            As duas primeiras estrofes mantêm uma relação antitética: “erguer a cabeça” x “olhar para as gramíneas”. Estas são as duas opções de conduta, sendo mai frequente a que se caracteriza pela acomodação, como vemos nos adjetivos costumeiro e habitudinária.  Antitético também é o significado entre rebanho e lobo. Neste (e na sua procedência) a ameaça, talvez fatal.      
            O poema de Affonso não é sobre rebanho e lobos, mas sobre homens. Daí a atenção que devemos prestar a linguagem, que, simbólica, merece uma leitura não literal. Talvez como a de uma parábola.
            Do olhar do leitor também depende o texto, ainda que ele, mesmo enigmático, não tenha a intenção de devorá-lo.  



              Marcus Vinicius Quiroga  

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