ERGUER A
CABEÇA ACIMA DO REBANHO
Erguer a
cabeça acima do rebanho
é um risco
que alguns
insolentes correm.
Mais fácil e
costumeiro
seria olhar
para as gramíneas
como a
habitudinária manada.
Mas alguns
erguem a cabeça
olham em torno
e percebem de
onde vem o lobo.
O rebanho
depende de um olhar.
Affonso
Romano de Sant’Anna, leitor de Nietsche,
é poeta que não tem o instinto de rebanho e ,talvez por isto, foi capaz
de nos oferecer este poema que,
didaticamente, deveria ser lido em salas de aula, reuniões de empresas,
assembleias de toda sorte, câmaras e senados.
Ou seja, é um texto recomendável para todos os rebanhos, pois uma parada
para reflexão de vez em quando não faz mal.
As
duas primeiras estrofes mantêm uma relação antitética: “erguer a cabeça” x “olhar
para as gramíneas”. Estas são as duas opções de conduta, sendo mai frequente a
que se caracteriza pela acomodação, como vemos nos adjetivos costumeiro e
habitudinária. Antitético também é o
significado entre rebanho e lobo. Neste (e na sua procedência) a ameaça, talvez
fatal.
O
poema de Affonso não é sobre rebanho e lobos, mas sobre homens. Daí a atenção
que devemos prestar a linguagem, que, simbólica, merece uma leitura
não literal. Talvez como a de uma parábola.
Do
olhar do leitor também depende o texto, ainda que ele, mesmo enigmático, não
tenha a intenção de devorá-lo.
Marcus Vinicius Quiroga
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