quarta-feira, 15 de julho de 2015

O OBJETO OBSCURO DA POESIA






                                     Sérgio Alcides 



FALTA


Maré baixa. O píer não se precipita
senão sobre o resíduo que vem dar na praia,
memória do mar, areia raiada ainda
pelas pegadas das águas em fuga, flauta
soprando invertida, para dentro de seus
pulmões: distância como concerto de sons
ausentes, renúncia da ventania, sujas
espumas abandonadas como se fossem bens,
algas e conchas entre ruínas de garrafas,
desperdício de mensagens, paus perdidos
de suas embarcações, com desespero de pregos
em sal e ferrugem, peixe afogado no ar   
descartável como os copos esvaziados, e,
lateralmente, o caranguejo flana entre
fragmentos de propaganda e etiquetas loucas.
O píer acusa o horizonte. Pendurada no canto,
a lua transparece no azul da manhã-marinha.


Repare a sequência de imagens que vão se desdobrando
como em um espiral. Faça um poema em que haja uma 
continuidade imagística, “definindo” poeticamente algum objeto.

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