quinta-feira, 27 de agosto de 2015

LEMBRANÇAS SEM PASSADO







                                                      Renato Alvarenga



O BOI

Os quartos de boi
pendurados nesta câmara refrigerada
já foram músculos vivos...

A matéria dos homens
já foi carne para as feras.
Éramos os bois das bestas,
que não distinguem o bicho do alimento
e nos consumiam in natura.
Éramos os bois de boiadeiros
de corpos e almas.

Não nos lembramos
amiúde
de que o bife no prato já sentiu:
apesar de processado antes,
o boi do homem continua boi.

Se nem isso percebemos,
menos entenderemos
que o homem ainda é o boi do homem.


Este texto de Renato Alvarenga, poeta que cresce a cada livro, 
apresenta um desdobramento da imagem do boi que prepara a
leitura para a metáfora final. Faça um poema em que uma
imagem-matriz também seja reutilizada e acrescida de novos sentidos.


Marcus Vinicius Quiroga 

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