segunda-feira, 18 de julho de 2016

AGORA FALANDO SÉRIO





AGORA FALANDO SÉRIO  Chico Buarque
 

Agora falando sério
Eu queria não cantar
A cantiga bonita
Que se acredita
Que o mal espanta
Dou um chute no lirismo
Um pega no cachorro
E um tiro no sabiá
Dou um fora no violino
Faço a mala e corro
Pra não ver a banda passar

Agora falando sério
Eu queria não mentir
Não queria enganar
Driblar, iludir
Tanto desencanto
E você que está me ouvindo
Quer saber o que está havendo
Com as flores do meu quintal?
O amor-perfeito, traindo
A sempre-viva, morrendo
E a rosa, cheirando mal

Agora falando sério
Preferia não falar
Nada que distraísse
O sono difícil
Como acalanto
Eu quero fazer silêncio
Um silêncio tão doente
Do vizinho reclamar
E chamar polícia e médico
E o síndico do meu tédio
Pedindo pra eu cantar

Agora falando sério
Eu queria não cantar
Falando sério

Agora falando sério
Eu queria não falar
Falando sério

     Nesta letra, Chico Buarque faz várias referências intratextuais e inverte inúmeras vezes um senso comum, uma expectativa óbvia, como nos seguintes versos: ”O amor-perfeito, traindo/ A sempre-viva, morrendo / E a rosa, cheirando mal”.
     Faça um poema em que haja inversões como estas que, na verdade, traduzem um momento e que não podem ser vistas como falta de sentido.


Marcus Vinicius Quiroga
  


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