quinta-feira, 18 de abril de 2019


Tecendo a Manhã
 (João Cabral)

 
1

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

2

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão. 
  

    Este poema, um dos mais conhecidos de João Cabral, trata da solidariedade e nos lembra do provérbio "uma andorinha só não faz verão", que faz parte do repertório popular. Curiosamente, o texto tem um tema de fácil comunicação e numa estrofe (a segunda) de difícil leitura.
    Escolha outro provérbio como temática de seu poema, sem fazer alusão a ele de forma direta.  



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