segunda-feira, 14 de março de 2011

O ESCRITOR É ALGUÉM QUE TEM ALGO A DIZER!




Agora em janeiro, em uma seleção para um cargo de engenheiro solicitaram uma redação com tema livre aos candidatos e a maioria escreveu sobre as enchentes na região serrana, reproduzindo as matérias saídas nos jornais escritos e televisivos. Estes foram eliminados, pois a empresa queira pessoas que pensassem, não papagaios.
A primeira pergunta que um escritor deve se fazer é esta: Tenho algo a dizer? Se você quer ser escritor porque, por alguma secreta razão, acha o personagem simpático, e não tem o que dizer, é melhor escolher outro papel. Se diante da página em branco do computador ou do caderno, você se pergunta o que está fazendo ali e diz que não tem ideias, é melhor usar o computador ou o caderno para outra finalidade.
Se você tiver paciência consigo mesmo, verá certamente que tem algo a dizer, que tem um modo particular de olhar o mundo e compreendê-lo e que poderá escrever sobre isto. Você não está mais nas salas de aula, fazendo redação para receber uma nota. Agora foi você quem escolheu esta situação: a folha em branco a sua frente e o teclado.
Sabemos que a redação é um dos bloqueios clássicos do aluno, porque ele se vê diante de si mesmo e não há escapatória. Consciente ou inconscientemente, ele sabe que a linguagem trai e, portanto, revela algo sobre ele, como, por exemplo, as suas faltas, o seu vazio, o seu desinteresse por sua vida e pelo mundo.
A inércia linguística não é gratuita: quem não consegue fazer uma redação com tema livre é porque nada tem a dizer, ou seja, é um “silenciado”. O escritor, ao contrário, é alguém que tem a urgência de dizer algo e de uma forma diferente, de uma forma literária.
Uma oficina serve para isto, para o exercício de pensar e de dar forma ao pensamento. A visão de mundo vem antes da escrita, a reflexão sobre o que acontece ao redor ocorre antes da aprendizagem de técnicas da literatura. Um escritor, como o engenheiro do primeiro parágrafo, não pode repetir o discurso alheio, pois se distingue por seu pensar diferente. O estilo não é só uma questão de linguagem, mas também de olhar, de pensar e de escolher.


Marcus Vinicius Quiroga

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