Vence na Vida quem diz Sim
Chico Buarque / Ruy Guerra
Vence na vida quem diz sim
Vence na vida quem diz sim
Se te dói o corpo, diz que sim
Torcem mais um pouco, diz que sim
Se te dão um soco, diz que sim
Se te deixam louco, diz que sim
Se te tratam no chicote, babam no cangote
Baixa o rosto e aprende o mote, olha bem pra mim
Vence na vida quem diz sim
Vence na vida quem diz sim
Se te mandam flores, diz que sim
Se te dizem horrores, diz que sim
Mandam pra cozinha, diz que sim
Chamam pra caminha, diz que sim
Se te chamam vagabunda, montam na cacunda
Se te largam moribunda olha bem pra mim
Vence na vida quem diz sim
Vence na vida quem diz sim
Se te erguem a taça, diz que sim
Se te xingam a raça, diz que sim
Se te chupam a alma, diz que sim
Se te pedem calma, diz que sim
Se já estás virando um caco, vives num buraco
E se é do balacobaco olha bem pra mim
Vence na vida quem diz sim
Esta letra gravada nos disos 70 tinha um sentido particular na época, levando-se em conta o pano de fundo histórico ou pensando-se em seu conteúdo de forma atemporal. O título proverbial é irônico e os versos mostram a inversão típica da ironia, ou seja, diz o contrário do que quer dizer. “Dizer sim” no caso signfica a acomodação, a sujeição a tudo, a negação de si mesmo, em troca apenas talvez da sobreviência.
Mas podemos estender o sentido desta máxima e interpretar o que vem a ser “vencer”. Vencer pode ser mais do que sobreviver, pode em outros caso ser mesmo ter êxito, fazer sucesso, subir na vida e significados afins.
O contexto mudou. Não estamos mais nos anos 70, nem sob o regime de ditadura. Mas os valores sociais não mudaram muito. Alguns até pioraram. O romantismo hippie acabou há bastante tempo e foi só um intervalo na cena burguesa das sociedades capitalistas. Ou seja, vencer continua sendo o verbo preferido destas sociedades, embora talvez não saibam exatamente o que isto queira dizer. Vencer pode significar invadir países e destruir a sua população, ou exportar mais do que importar, ou ter mais votos do que os outros candidatos, ou conseguir uma comissão, um cargo no governo, um apadrinhamento, um reconhecimento ‘oficial’, uma exposição favorável na mídia etc
De um modo geral, o verbo não lembra valores espirituais ou inte-lectuais, pouco encontrados nas diferentes classes, por razões diversas. As indústrias ditam as regras, impõem a publicidade, fazem a divugldação se seus produtos, sejam eles pessoas ou coisas.
Quem diz sim tem mais chance de ocupar um lugar no pódio. Se a letra já era irônica, a história, com suas inevitáveis mudanças, tornou-a mais irônica ainda. O sim de hoje já não é necessariamente o sim de ontem.
A ironia, portanto, não se limita a palavras, mas tem uma relação direta com o seu momento e o seu espaço. Muda-se o contexto, muda-se a ironia.
E esta letra, que um dia nos trouxe um leve sorriso de deboche, hoje talvez nos dê certa tristreza.
Marcus Vinicius Quiroga
Chico Buarque / Ruy Guerra
Vence na vida quem diz sim
Vence na vida quem diz sim
Se te dói o corpo, diz que sim
Torcem mais um pouco, diz que sim
Se te dão um soco, diz que sim
Se te deixam louco, diz que sim
Se te tratam no chicote, babam no cangote
Baixa o rosto e aprende o mote, olha bem pra mim
Vence na vida quem diz sim
Vence na vida quem diz sim
Se te mandam flores, diz que sim
Se te dizem horrores, diz que sim
Mandam pra cozinha, diz que sim
Chamam pra caminha, diz que sim
Se te chamam vagabunda, montam na cacunda
Se te largam moribunda olha bem pra mim
Vence na vida quem diz sim
Vence na vida quem diz sim
Se te erguem a taça, diz que sim
Se te xingam a raça, diz que sim
Se te chupam a alma, diz que sim
Se te pedem calma, diz que sim
Se já estás virando um caco, vives num buraco
E se é do balacobaco olha bem pra mim
Vence na vida quem diz sim
Esta letra gravada nos disos 70 tinha um sentido particular na época, levando-se em conta o pano de fundo histórico ou pensando-se em seu conteúdo de forma atemporal. O título proverbial é irônico e os versos mostram a inversão típica da ironia, ou seja, diz o contrário do que quer dizer. “Dizer sim” no caso signfica a acomodação, a sujeição a tudo, a negação de si mesmo, em troca apenas talvez da sobreviência.
Mas podemos estender o sentido desta máxima e interpretar o que vem a ser “vencer”. Vencer pode ser mais do que sobreviver, pode em outros caso ser mesmo ter êxito, fazer sucesso, subir na vida e significados afins.
O contexto mudou. Não estamos mais nos anos 70, nem sob o regime de ditadura. Mas os valores sociais não mudaram muito. Alguns até pioraram. O romantismo hippie acabou há bastante tempo e foi só um intervalo na cena burguesa das sociedades capitalistas. Ou seja, vencer continua sendo o verbo preferido destas sociedades, embora talvez não saibam exatamente o que isto queira dizer. Vencer pode significar invadir países e destruir a sua população, ou exportar mais do que importar, ou ter mais votos do que os outros candidatos, ou conseguir uma comissão, um cargo no governo, um apadrinhamento, um reconhecimento ‘oficial’, uma exposição favorável na mídia etc
De um modo geral, o verbo não lembra valores espirituais ou inte-lectuais, pouco encontrados nas diferentes classes, por razões diversas. As indústrias ditam as regras, impõem a publicidade, fazem a divugldação se seus produtos, sejam eles pessoas ou coisas.
Quem diz sim tem mais chance de ocupar um lugar no pódio. Se a letra já era irônica, a história, com suas inevitáveis mudanças, tornou-a mais irônica ainda. O sim de hoje já não é necessariamente o sim de ontem.
A ironia, portanto, não se limita a palavras, mas tem uma relação direta com o seu momento e o seu espaço. Muda-se o contexto, muda-se a ironia.
E esta letra, que um dia nos trouxe um leve sorriso de deboche, hoje talvez nos dê certa tristreza.
Marcus Vinicius Quiroga
Olá, Marcus
ResponderExcluirVencer é verbo, mas substantiva nossa alma quando pode incorporar, além da simbologia ideológica, repetitiva e conformista, um quê de conquista. E, nesse sentido, conquistar pode ser um universo tão amplo. Por exemplo, há cinco minutos, quando descobri o seu blog, me deu uma sensação deliciosa de vitória. E de prazer ao constatar que aquele doce e brilhante cabeludo que conheci lá pelos anos 70 continua encantador.
E aí, professor, lembra de mim? Sei que Lenôra está tentando ajustar um encontro coletivo. Daqui já te afirmo: vai ser um prazer reencontrar tanta gente que o tempo e a vida fizeram afastar de mim, mas te ver e falar com você vai ser muito, muito especial.
Meu e-mail é veronica.cobas@gmail.com. Escreve para mim. Beijo grande.
Verônica