Houve época em se dizia haver palavras poéticas e não-poéticas. Estas palavras poéticas também eram ditas literárias, como se existissem só para serem usadas em textos de ficção e havia até quem acreditasse que hodierno era melhor do que moderno. É claro que há muito tempo não se usa hodierno e que esta palavra seria mal vista em textos literários nos tempos hodiernos, queremos dizer, modernos.
As palavras que caem em desuso, depois do Modernismo, passaram a não ser bem-vindas na literatura, a menos que haja razões de estilo ou de expressão que a justifiquem. A influência da linguagem oral cresceu muito e afastou do vocabulário escrito palavras que se tornaram “pedantes” e “esnobes”. Isto é um fato ocorrido e não uma regra para ser seguida. Cabe ao escritor sempre a sensibilidade para escolher suas palavras e a responsabilidade por tê-lo feito.
Desde o início do século passado, toda palavra pode ser poética, dependendo da sua utilização. Augusto dos Anjos, por exemplo, inovou justamente por fazer uso de um vocabulário que não frequentava a poesia. Seus termos científicos e difíceis causaram um estranhamento, que foi uma das marcas de seu estilo, pois destoavam bastante das expectativas simbolistas e parnasianas.
Da nossa parte admitimos uma idiossincrasia, a de preferir certas palavras em detrimento de outras por razões totalmente subjetivas e não explicáveis. Palavras e mesmo letras exercem sobre nós uma atração por motivos gráficos e fonéticos que não saberíamos dizer por quê. A preferência pela letra itálica ao tipo normal seria um exemplo. Ou seja, é uma questão de gosto, de particular sensibilidade.
É dito que palavras com muitas sílabas se prestam menos à poesia e à letra de música. De certa forma, também pensamos assim e teríamos dificuldade em usar a palavra “idiossincrasia”, que aparece no parágrafo anterior, em um poema, o que não significa que outro não possa ou não deva fazê-lo.
Há também palavras que, por de serem de áreas semânticas muito específicas, nos parece um pouco estranhas em um texto poético. Por exemplo, duas palavras da moda, lidas diariamente em jornais, como “sustentabilidade” e “visibilidade”, em tese, não nos agradariam em poemas.
Tentemos ser mais claros: defendemos o princípio de que não existem palavras poéticas como uma regra imutável, mas na prática reconhecemos que as “subjetividades” dos poetas elegem algumas palavras e excluem outras. Ou, de outro modo, a seleção vocabular é fundamental no texto literário, e mais ainda na poesia, não devendo, portanto, ser relegada a um segundo plano, como se as ideias bastassem, e não as palavras que as incorporam.
Recomendamos que o autor leia em voz alta seu poema e sinta se as palavras soam bem ou não. Sem dúvida, é a subjetividade do seu “ouvido” que vai determinar este soar bem, mas a leitura de bons poetas e o exercício de reler os próprios poemas de maneira crítica vão ajudar bastante.
Marcus Vinicius Quiroga
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