domingo, 28 de agosto de 2011

AS PAREDES DA LINGUAGEM





A palavra é vista como revelação, e até como epifania. Mas muita vez serve para esconder. Sim, mais esconderijo do que refúgio. Ele tece meia dúzia de metáforas e pronto: o mundo permanece o mesmo e o escritor se sente com um ar de inteligência diante das coisas.
Na análise (ou nas análises) aprendemos que a linguagem trai e que discurso algum é inocente. O discurso é, afinal, o material primeiro da sessão. Antes de nos levar a outros mundos, ele nos leva a ele mesmo. Não se trata de um embate entre dois discursos, o do analista e do analisando, mas de um encontro. Até porque o analisando que quiser escapar pelas palavras é quem perde.
Por mais hábil que seja, o escritor também não engana o leitor. Seu texto aparentemente simbólico pode receber aplausos e afagar sua vaidade. Depois é que são elas.
Nada se faz com aquelas imagens tão atraentes na folha do papel. Do lado de fora a vida não muda. As segundas-feiras são inevitáveis e estão lá sempre à nossa espera.
Matáforas não deveriam servir para adiar a vida. O Fernando, ele-mesmo, morreu no dia 30 de novembro de 1935. O que ainda temos hoje são os poemas de Pessoa, um ser bem mais fictício do que ele supunha.
A linguagem serve não só para os belos poemas líricos escritos e não escritos, serve também para os equívocos, para os textos dúbios, para as frases pretensamente reparadoras do mundo.
Antes as palavras-espelho do que as palavras-biombo.


Marcus Vinicius Quiroga

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