quarta-feira, 23 de março de 2011

POEMA DE FIM DE VERÃO

SONETILHO DE VERÃO

Traído pelas palavras.
O mundo não tem conserto.
Meu coração se agonia.
Minha alma se escalavra.
Meu corpo não liga não.
A ideia resiste ao verso,
o verso recusa a rima,
a rima afronta a razão
e a razão desatina.
Desejo manda lembranças.

O poema não deu certo.
A vida não deu em nada.
Não há deus. Não há esperança.
Amanhã deve dar praia.

Paulo Henriques Britto

sexta-feira, 18 de março de 2011

OFICINA DE POESIA NO SIMPRO TERÇA-FEIRA DE MANHÃ

OFICINA DE POESIA NO SIMPRO

(RUA PEDRO LESSA 35, 3º ANDAR, CENTRO)


COM MARCUS VINICIUS QUIROGA

POETA COM 12 LIVROS PUBLICADOS, DOUTOR EM LITERATURA BRASILEIRA, CRÍTICO E ENSAÍSTA


INÍCIO: DIA 22 DE MARÇO

NOS DIAS 22 E 29 DE MARÇO; 5, 12, 19 E 26 DE ABRIL
SEMPRE ÀS TERÇAS-FEIRAS, DAS 9H30 ÀS 12H30

AS LINGUAGENS CONOTATIVA E DENOTATIVA, AS DIFERENÇAS ENTRE POESIA E PROSA; AS DIVERSIDADES SEMÂNTICA E SINTÁTICA
DOS POEMAS; CRIAÇÃO DE TEXTOS E COMENTÁRIOS; LEITURA E ANÁLISE DE POETAS CONTEMPORÂNEOS.

VALORES ESPECIAIS PARA ASSOCIADOS DO SINDICATO E DE OUTRAS ENTIDADES

MAIS INFORMAÇÕES: 3262-3440 E 3262-3439

ou no site www.simpro-rio.org.br

OBS. COMO NÃO HÁ PRÉ-REQUISITO, O ALUNO PODE ENTRAR MESMO DEPOIS DO INÍCIO DA OFICINA

METÁFORAS DE SOL

UM GOSTO DE SOL

Milton Nascimento/Ronaldo Bastos

Alguém que vi de passagem
Numa cidade estrangeira
Lembrou os sonhos que eu tinha
E esqueci sobre a mesa
Como uma pêra se esquece
Dormindo numa fruteira
Como adormece o rio
Sonhando na carne da pêra
O sol na sombra se esquece
Dormindo numa cadeira
Alguém sorriu de passagem
Numa cidade estrangeira
Lembrou o riso que eu tinha
E esqueci entre os dentes
Como uma pêra se esquece
Sonhando numa fruteira


PROMESSAS DO SOL

Milton Nascimento e Fernando Brant

Você me quer forte
E eu não sou forte mais
Sou o fim da raça, o velho que se foi
Chamo pela lua de prata pra me salvar
Rezo pelos deuses da mata pra me matar
Você me quer belo
E eu não sou belo mais
Me levaram tudo que um homem podia ter
Me cortaram o corpo à faca sem terminar
Me deixaram vivo, sem sangue, apodrecer
Você me quer justo
E eu não sou justo mais
Promessas de sol já não queimam meu coração
Que tragédia é essa que cai sobre todos nós?
Que tragédia é essa que cai sobre todos nós

quinta-feira, 17 de março de 2011

GUARDANAPOS DE PAPEL

GUARDANAPOS DE PAPEL

de Leo Masliah
tradução de Carlos Sandroni

Na minha cidade tem poetas, poetas,
Que chegam sem tambores nem trombetas, trombetas,
E sempre aparecem quando menos aguardados, guardados, guardados,
Entre livros e sapatos, em baús empoeirados.
Saem de recônditos lugares no ares, nos ares,
Onde vivem com seus pares seus pares, seus pares,
Seus pares e convivem com fantasmas multicores, de cores, de cores,
Que te pintam as olheiras e te pedem que não chores
Suas ilusões são repartidas partidas, partidas,
Entre mortos e feridas, feridas, feridas,
Mas resistem com palavras, confundidas, fundidas, fundidas,
Ao seu triste passo lento pelas ruas e avenidas.

Não desejam glorias nem medalhas, medalhas, medalhas,
Se contentam com migalhas, migalhas
Migalhas de canções e brincadeiras com seus versos dispersos, dispersos,
Obcecados pela busca de tesouros submersos.
Fazem quatrocentos mil projetos, projetos, projetos,
Que jamais são alcançados cansados, cansados,
Nada disso importa enquanto eles escrevem, escrevem, escrevem,
O que sabem que não sabem e o que dizem que não devem.
Andam pelas ruas os poetas, poetas, poetas,
Como se fossem cometas, cometas, cometas,
Num estranho céu de estrelas idiotas e outras, e outras,
Cujo brilho sem barulho veste suas caldas tortas.

Na minha cidade tem canetas, canetas, canetas,
Esvaindo-se em milhares, milhares,
Milhares de palavras retorcidas e confusas, confusas, confusas,
Em delgados guardanapos, feito moscas inconclusas.
Andam pelas ruas escrevendo e vendo, e vendo,
Que eles vêm nos vão dizendo, dizendo,
E sendo eles poetas de verdade enquanto espiam e piram, e piram,
Não se cansam de falar do que eles juram que não viram.
Olham para o céu esses poetas, poetas, poetas,
Como se fossem lunetas, lunetas, lunáticas,
Lançadas ao espaço e o mundo inteiro, inteiro, inteiro,
Fossem vendo pra depois voltar pro Rio de Janeiro.

segunda-feira, 14 de março de 2011

O ESCRITOR É ALGUÉM QUE TEM ALGO A DIZER!




Agora em janeiro, em uma seleção para um cargo de engenheiro solicitaram uma redação com tema livre aos candidatos e a maioria escreveu sobre as enchentes na região serrana, reproduzindo as matérias saídas nos jornais escritos e televisivos. Estes foram eliminados, pois a empresa queira pessoas que pensassem, não papagaios.
A primeira pergunta que um escritor deve se fazer é esta: Tenho algo a dizer? Se você quer ser escritor porque, por alguma secreta razão, acha o personagem simpático, e não tem o que dizer, é melhor escolher outro papel. Se diante da página em branco do computador ou do caderno, você se pergunta o que está fazendo ali e diz que não tem ideias, é melhor usar o computador ou o caderno para outra finalidade.
Se você tiver paciência consigo mesmo, verá certamente que tem algo a dizer, que tem um modo particular de olhar o mundo e compreendê-lo e que poderá escrever sobre isto. Você não está mais nas salas de aula, fazendo redação para receber uma nota. Agora foi você quem escolheu esta situação: a folha em branco a sua frente e o teclado.
Sabemos que a redação é um dos bloqueios clássicos do aluno, porque ele se vê diante de si mesmo e não há escapatória. Consciente ou inconscientemente, ele sabe que a linguagem trai e, portanto, revela algo sobre ele, como, por exemplo, as suas faltas, o seu vazio, o seu desinteresse por sua vida e pelo mundo.
A inércia linguística não é gratuita: quem não consegue fazer uma redação com tema livre é porque nada tem a dizer, ou seja, é um “silenciado”. O escritor, ao contrário, é alguém que tem a urgência de dizer algo e de uma forma diferente, de uma forma literária.
Uma oficina serve para isto, para o exercício de pensar e de dar forma ao pensamento. A visão de mundo vem antes da escrita, a reflexão sobre o que acontece ao redor ocorre antes da aprendizagem de técnicas da literatura. Um escritor, como o engenheiro do primeiro parágrafo, não pode repetir o discurso alheio, pois se distingue por seu pensar diferente. O estilo não é só uma questão de linguagem, mas também de olhar, de pensar e de escolher.


Marcus Vinicius Quiroga

domingo, 13 de março de 2011

PALAVRAS POÉTICAS




Houve época em se dizia haver palavras poéticas e não-poéticas. Estas palavras poéticas também eram ditas literárias, como se existissem só para serem usadas em textos de ficção e havia até quem acreditasse que hodierno era melhor do que moderno. É claro que há muito tempo não se usa hodierno e que esta palavra seria mal vista em textos literários nos tempos hodiernos, queremos dizer, modernos.
As palavras que caem em desuso, depois do Modernismo, passaram a não ser bem-vindas na literatura, a menos que haja razões de estilo ou de expressão que a justifiquem. A influência da linguagem oral cresceu muito e afastou do vocabulário escrito palavras que se tornaram “pedantes” e “esnobes”. Isto é um fato ocorrido e não uma regra para ser seguida. Cabe ao escritor sempre a sensibilidade para escolher suas palavras e a responsabilidade por tê-lo feito.
Desde o início do século passado, toda palavra pode ser poética, dependendo da sua utilização. Augusto dos Anjos, por exemplo, inovou justamente por fazer uso de um vocabulário que não frequentava a poesia. Seus termos científicos e difíceis causaram um estranhamento, que foi uma das marcas de seu estilo, pois destoavam bastante das expectativas simbolistas e parnasianas.
Da nossa parte admitimos uma idiossincrasia, a de preferir certas palavras em detrimento de outras por razões totalmente subjetivas e não explicáveis. Palavras e mesmo letras exercem sobre nós uma atração por motivos gráficos e fonéticos que não saberíamos dizer por quê. A preferência pela letra itálica ao tipo normal seria um exemplo. Ou seja, é uma questão de gosto, de particular sensibilidade.
É dito que palavras com muitas sílabas se prestam menos à poesia e à letra de música. De certa forma, também pensamos assim e teríamos dificuldade em usar a palavra “idiossincrasia”, que aparece no parágrafo anterior, em um poema, o que não significa que outro não possa ou não deva fazê-lo.
Há também palavras que, por de serem de áreas semânticas muito específicas, nos parece um pouco estranhas em um texto poético. Por exemplo, duas palavras da moda, lidas diariamente em jornais, como “sustentabilidade” e “visibilidade”, em tese, não nos agradariam em poemas.
Tentemos ser mais claros: defendemos o princípio de que não existem palavras poéticas como uma regra imutável, mas na prática reconhecemos que as “subjetividades” dos poetas elegem algumas palavras e excluem outras. Ou, de outro modo, a seleção vocabular é fundamental no texto literário, e mais ainda na poesia, não devendo, portanto, ser relegada a um segundo plano, como se as ideias bastassem, e não as palavras que as incorporam.
Recomendamos que o autor leia em voz alta seu poema e sinta se as palavras soam bem ou não. Sem dúvida, é a subjetividade do seu “ouvido” que vai determinar este soar bem, mas a leitura de bons poetas e o exercício de reler os próprios poemas de maneira crítica vão ajudar bastante.

Marcus Vinicius Quiroga

sábado, 12 de março de 2011

O NOVO LIVRO DE CARLOS NEJAR


O poeta Carlos Nejar lançará no dia 24, às 19h, na Livraria Travesa de Ipanema, a edição revista e ampliada de História da Literatura Brasileira, leitura obrigatória e prazerosa de todo escritor, iniciante ou experiente.
Recomendamos a entrevista publicada na edição de hoje, 12 de março, no suplemento literário Prosa & Verso, feita por Miguel Conde, para nos familiarizarmos com as ideias do escritor e despertamos a curiosidade por esta sua história de nossa literatura.
Se a melhor oficina é a leitura dos grandes autores, entrar em contato com eles por intermédio de um ensaísta da envergadura de Nejar, é mais do que vantajoso.

sexta-feira, 11 de março de 2011

A IRONIA E O CONTEXTO

Vence na Vida quem diz Sim

Chico Buarque / Ruy Guerra


Vence na vida quem diz sim
Vence na vida quem diz sim
Se te dói o corpo, diz que sim
Torcem mais um pouco, diz que sim
Se te dão um soco, diz que sim
Se te deixam louco, diz que sim
Se te tratam no chicote, babam no cangote
Baixa o rosto e aprende o mote, olha bem pra mim
Vence na vida quem diz sim
Vence na vida quem diz sim
Se te mandam flores, diz que sim
Se te dizem horrores, diz que sim
Mandam pra cozinha, diz que sim
Chamam pra caminha, diz que sim
Se te chamam vagabunda, montam na cacunda
Se te largam moribunda olha bem pra mim
Vence na vida quem diz sim
Vence na vida quem diz sim
Se te erguem a taça, diz que sim
Se te xingam a raça, diz que sim
Se te chupam a alma, diz que sim
Se te pedem calma, diz que sim
Se já estás virando um caco, vives num buraco
E se é do balacobaco olha bem pra mim
Vence na vida quem diz sim


Esta letra gravada nos disos 70 tinha um sentido particular na época, levando-se em conta o pano de fundo histórico ou pensando-se em seu conteúdo de forma atemporal. O título proverbial é irônico e os versos mostram a inversão típica da ironia, ou seja, diz o contrário do que quer dizer. “Dizer sim” no caso signfica a acomodação, a sujeição a tudo, a negação de si mesmo, em troca apenas talvez da sobreviência.
Mas podemos estender o sentido desta máxima e interpretar o que vem a ser “vencer”. Vencer pode ser mais do que sobreviver, pode em outros caso ser mesmo ter êxito, fazer sucesso, subir na vida e significados afins.
O contexto mudou. Não estamos mais nos anos 70, nem sob o regime de ditadura. Mas os valores sociais não mudaram muito. Alguns até pioraram. O romantismo hippie acabou há bastante tempo e foi só um intervalo na cena burguesa das sociedades capitalistas. Ou seja, vencer continua sendo o verbo preferido destas sociedades, embora talvez não saibam exatamente o que isto queira dizer. Vencer pode significar invadir países e destruir a sua população, ou exportar mais do que importar, ou ter mais votos do que os outros candidatos, ou conseguir uma comissão, um cargo no governo, um apadrinhamento, um reconhecimento ‘oficial’, uma exposição favorável na mídia etc
De um modo geral, o verbo não lembra valores espirituais ou inte-lectuais, pouco encontrados nas diferentes classes, por razões diversas. As indústrias ditam as regras, impõem a publicidade, fazem a divugldação se seus produtos, sejam eles pessoas ou coisas.
Quem diz sim tem mais chance de ocupar um lugar no pódio. Se a letra já era irônica, a história, com suas inevitáveis mudanças, tornou-a mais irônica ainda. O sim de hoje já não é necessariamente o sim de ontem.
A ironia, portanto, não se limita a palavras, mas tem uma relação direta com o seu momento e o seu espaço. Muda-se o contexto, muda-se a ironia.
E esta letra, que um dia nos trouxe um leve sorriso de deboche, hoje talvez nos dê certa tristreza.


Marcus Vinicius Quiroga

quinta-feira, 10 de março de 2011

OFICINA DE POESIA NA ESTAÇÃO DAS LETRAS

Oficina de Poesia na Estação das Letras

Oficina de Poesia (introdução)
Criação de textos literários com comentários críticos em paralelo com leitura e análise de autores nacionais contemporâneos. Estudo das diferenças entre o texto literário e o não-literário; as linguagens conotativa e denotativa; o verso livre e o metrificado; o verso branco e a rima; o estudo das áreas de significação e da diversidade temática e a estrutura de um texto poético.

De 11/03 a 01/07 6as. feiras das 16h30 às 18h20

Prof.: Marcus Vinicius Quiroga - Poeta, contista, crítico, Doutor em Literatura Brasileira, membro do PEN Clube do Brasil e da Academia Carioca de Letras. Autor de 11 livros de poesia, como O xadrez e as palavras, Campo de trigo maduro e Manual de instruções para cegos. Recebeu prêmios da CBL (Jabuti), da Fundação Biblioteca Nacional e da UBE (Rio e São Paulo), entre outros.
Valores: 4 x R$230,00


Estação das Letras - Rua Marquês de Abrantes, 177 - Loja 107 e 108
Flamengo - Rio de Janeiro - RJ :: CEP: 22230-060
Telefone: (21) 3237-3947 (21) 3237-3947