O NOME
Estão demolindo
o edifício em que não morei.
Tinha um nome
Somente meu.
Meu, de mais ninguém
o edifício
Não era meu
Rápido passando
Por sua fachada
Lia o nome
Que era e é meu.
Cai o teto,
ruem
paredes
internas.
Continua o nome
Vibrando entre janelas
Buracos.
Sigo a destruição
de meu edifício
amanhã o nome
letra por letra
se desletrará
Ficará em mim
o nome que é meu?
Ficarei
para preservá-lo?
Amanhã o galo
Cantará o fim
do que no edifício
E numa pessoa
cabe em um nome
e é mais
do que um nome.
Carlos Drummond de Andrade
O nome
do edifício ou o nome de qualquer coisa,
o nome da algo concreto,
que visivelmente se desfaz: a demolição. Mais
uma vez o poeta se vale do
substantivo concreto para falar (ou insinuar )
de substantivos abstratos.
Mas
aqui fica a questão: nome é concreto ou abstrato? Um nome pode ser demolido? O
que cabe em um nome que é mais que um nome?
Em “O
São Borja foi demolido”, o nome é gramaticalmente concreto. Só que diante dos
escombros do edifício, “São Borja” torna-se um nome-lembrança,
uma lembrança sem moldura, sem prego e sem parede.
Marcus Vinicius Quiroga
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