quinta-feira, 4 de outubro de 2012



O NOME

Estão demolindo
o edifício em que não morei.
Tinha um nome
Somente meu.

Meu, de mais ninguém
o edifício
Não era meu

Rápido passando
Por sua fachada
Lia o nome
Que era e é meu.

Cai o teto,
 ruem paredes
internas.
Continua o nome
Vibrando entre janelas
Buracos.

Sigo a destruição
de meu edifício
amanhã o nome
letra por letra
se desletrará

Ficará em mim
o nome que é meu?
Ficarei
para preservá-lo?
Amanhã o galo
Cantará o fim
do que no edifício
E numa pessoa
cabe em um nome
e  é mais do que um nome.

Carlos Drummond de Andrade

   O nome do edifício ou  o nome de qualquer coisa, o nome da algo concreto,
que visivelmente se desfaz: a demolição. Mais uma vez o poeta se vale do
substantivo concreto para falar (ou insinuar ) de substantivos abstratos.
   Mas aqui fica a questão: nome é concreto ou abstrato? Um nome pode ser demolido? O que cabe em um nome que é mais que um nome?   
   Em “O São Borja foi demolido”, o nome é gramaticalmente concreto. Só que diante dos escombros do edifício, “São Borja” torna-se um nome-lembrança,
uma lembrança sem moldura, sem prego e sem parede.

Marcus Vinicius Quiroga

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