DIÁLOGOS
Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está
lendo a gente ... e não a gente a ele!
Muitos críticos, em vez de me julgarem pelo que eu
sou, julgam-me pelo que eu não sou. É como quem olhasse um pessegueiro e
dissesse: "Mas isto não é um trator!"
Mario Quintana
Nos todos gostamos quando, ao lermos um poema, nos identificamos com o
que é dito, como se ele tivesse sido escrito para nós. E às vezes até acredita-mos
nisto. Daí a impressão de que ele nos lê, nos adivinha, e se torna nosso porta-voz.
A identificação, a empatia por parte do receptor com qualquer obra de
arte é fundamental. Mas não é critério exclusivo de qualidade, pois um texto
que des-perta a identificação do leitor não é necessariamente um bom texto
Esta resposta de Quintana em uma entrevista talvez seja o meu dizer quintaniano preferido. Pois não só
os críticos, mas nos diálogos literários e não literários, o que mais vemos é
a expectativa prevalecer sobre a mensagem. Esperamos que pessegueiro seja um
trator e nos frustramos, quando percebemos que não estamos diante de um trator.
E sequer temos olhos para os pêssegos da árvore.
Mal maior: continuarmos a falar com um pessegueiro na língua do trator,
tal a obsessão e a cegueira. E
reclamaremos que o pessegueiro não fez o trabalho certo de arar o campo.
Quem não sair de si para olhar o pessegueiro, vai envelhecer criticando o trator que não existe.
A poesia é sempre uma ilha dialógica diante do continente narcísico de
monólogos
Marcus Vinicius Quiroga
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