sábado, 5 de outubro de 2013

PAISAGEM PELO TELEFONE


Sempre que no telefone 
me falavas, eu diria
 
que falavas de uma sala
 
toda de luz invadida,
 

sala que pelas janelas, 
duzentas, se oferecia
 
a alguma manhã de praia,
 
mais manhã porque marinha,
 

a alguma manhã de praia 
no prumo do meio-dia,
 
meio-dia mineral
 
de uma praia nordestina,
 

Nordeste de Pernambuco, 
onde as manhãs são mais limpas,
 
Pernambuco do Recife,
 
de Piedade, de Olinda,
 

sempre povoado de velas, 
brancas, ao sol estendidas,
 
de jangadas, que são velas
 
mais brancas porque salinas,
 

que, como muros caiados 
possuem luz intestina,
 
pois não é o sol quem as veste
 
e tampouco as ilumina,
 

mais bem, somente as desveste 
de toda sombra ou neblina,
 
deixando que livres brilhem
 
os cristais que dentro tinham.
 

Pois, assim, no telefone 
tua voz me parecia
 
como se de tal manhã
 
estivesses envolvida,
 

fresca e clara, como se 
telefonasses despida,
 
ou, se vestida, somente
 
de roupa de banho, mínima,
 

e que por mínima, pouco 
de tua luz própria tira,
 
e até mais, quando falavas
 
no telefone, eu diria
 

que estavas de todo nua, 
só de teu banho vestida,
 
que é quando tu estás mais clara
 
pois a água nada embacia,
 

sim, como o sol sobre a cal 
seis estrofes mais acima,
 
a água clara não te acende:
 
libera a luz que já tinhas.


 Faça um texto sobre uma paisagem que não pode ser vista por você,
 com motivação no texto de João Cabral. Primeiro, pense bastante para 
 escolher o lugar do qual você imaginará a paisagem; depois, escreva-a.

Nenhum comentário:

Postar um comentário