segunda-feira, 21 de julho de 2014

EXERCÍCIOS COM MANUEL BANDEIRA

OS SAPOS


Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
— “Meu pai foi à guerra!”
— “Não foi!” — “Foi!” — “Não foi!”.

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: — “Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.

O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.

Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas…”

Em, Os sapos, Bandeira critica o Parnasianismo. Faça um texto  metalinguístico sobre alguma estética literária.


PORQUINHO-DA-ÍNDIA


Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele prá sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas…
— O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada.


Faça um texto em prosa dizendo o que foi metaforicamente seu(sua) primeiro(a) namorado(a), como o porquinho-da-índia foi para Bandeira.


POEMA TIRADO DE UMA NOTÍCIA DE JORNAL

João Gostoso era carregador de feira livre
e morava no morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.


Escolha um poema e o transforme em um texto em prosa, como se fosse uma notícia de jornal, fazendo, assim, o trajeto inverso ao de Bandeira.



O BICHO


Vi ontem um bicho
na imundície do pátio
catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
não examinava nem cheirava:
engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
não era um gato,
não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.


Neste poema, para dar a dimensão da miséria humana, 
Bandeira mostra o homem se comportando como um bicho. 
Pense em outra analogia para fazer uma crítica social que 
revele as circunstâncias adversas da condição humana.

Nenhum comentário:

Postar um comentário