sábado, 21 de março de 2015

O ESPAÇO DO SER























OFÍCIO

Ocupo o espaço que não é meu, mas do universo.
Espaço do tamanho do meu corpo aqui, 
enchendo inúteis quilos de um metro e setenta 
e dois centímetros, o humano de quebra.
Vozes me dizem: eh, tu aí! E me mandam bater 
serviços de excrementos em papéis caídos 
numa máquina Remington, ou outra qualquer. 
E me mandam pro inferno, se inferno houvesse 
pior que este inumano existir burocrático. 
E depois há o escárnio da minha província. 
E a minha vida para cima e para baixo, 
para baixo sem cima, ponte umbilical 
partida, raiz viva de morta inocência. 
Estranhos uns aos outros, que faço eu aqui? 
E depois ninguém sabe mesmo do espaço 
que ocupo, desnecessário espaço de pernas 
e de braços preenchendo o vazio que eu sou. 
E o mundo, triste bronze de um sino rachado, 
o mundo restará o mesmo sem minha quota 
de angústia e sem minha parcela de nada.
 

Escreva um poema em que haja uma noção particular de espaço, como no texto de Nauro machado.

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