quarta-feira, 19 de outubro de 2011

AINDA SOBRE UMA IMAGEM (A GARRAFA)



GARRAFA VAZIA


SUPONHA
QUE O LÍQUIDO DA CERVEJA
SEJA UM ESPELHO
PONHA-SE
FRENTE A FRENTE
COMO SE O TEMPO
ESTIVESSE A VÊ-LO

NO VAZIO
DA GARRAFA VAZIA
UMA LEMBRANÇA FLUTUA:
O QUE FEZ DA VIDA
QUE NÃO PARECE SUA?

SUPONHA
QUE O LÍQUIDO DA CERVEJA
SE ESPALHE PELA MESA
SINTA COM OS DEDOS
O CONTEÚDO QUE SE ESVAI

O GARÇOM TRAZ
MAIS OUTRA GARRAFA
TUDO PASSA EM SEGUNDOS
UM DESEJO NÃO SE ABAFA
OLHE NO FUNDO DO COPO
DE RELANCE, POR UM TRIZ

O QUE FEZ DA VIDA
QUE NÃO QUIS SER FELIZ?


Lúcio Ferreira


Há poucos dias vimos uma letra de Jim Croce e observamos a imagem da garrafa. Por coincidência, encontrei este texto (poema ou letra?) que também privilegia a imagem. No caso, chamamos atenção outra vez para a materialização (a garrafa) de um sentimento ou sensação de vazio. Um objeto feito para conter, conter líquidos, é usado com a finalidade de falar sobre a ausência, o não contido, ou como diz o texto, metaforicamente, o líquido que se esvai, que se espalha, que se perde.
O objeto do eu lírico serve também para motivar uma reflexão sobre o tempo perdido (esvaído como a cerveja), sobre a vida que não coincide, que não se reconhece no espelho do fundo do copo. No texto embriaguez e lucidez se misturam. A visão ébria não tem lateralidade e muitas vezes não vê o que está perto, mas ao lado.
A visão sóbria pode não ser uma virtude. De qualquer forma, nos lembramos dos versos de Baudelaire que sugere nos embriagarmos de vinho ou de virtude.A sobriedade é branca!

Marcus Vinicius Quiroga

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