MODO DE AMAR
Amor como tremor de
terra
abalando montanhas e minérios
nas entranhas da minha carne.
Amor como relâmpagos e sóis
inaugurando auroras
ou ateando faíscas e incêndios
nas trevas da minha noite.
Amor como açudes sangrando
ou caudais tempestades
despencando dilúvios.
E não me falem de ruínas
nem de cinzas, nem de lama.
abalando montanhas e minérios
nas entranhas da minha carne.
Amor como relâmpagos e sóis
inaugurando auroras
ou ateando faíscas e incêndios
nas trevas da minha noite.
Amor como açudes sangrando
ou caudais tempestades
despencando dilúvios.
E não me falem de ruínas
nem de cinzas, nem de lama.
Astrid Cabral
ENSINAMENTO
Minha mãe achava estudo
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
"Coitado, até essa hora no serviço pesado".
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.
Adélia Prado
Vejamos os dois textos de duas poetas
sobre o mesmo tema. Em ambos o texto se encaminha para uma
oposição ( “E não me falem de ruínas” e “Não me falou em amor”). Por coincidência
(verifico agora) o verbo falar na voz de outra pessoa.
Ao contrário do que ocorre normalmente,
quando usamos a estrutura opositiva, é a primeira referência a valorizada: o
amor desmedido em Astrid e o amor de pequenos gestos em Adélia.
No primeiro, metáforas arrebatadoras (tremor
de terra, relâmpagos, sóis, auroras, açudes, tempestades...); no segundo, o
realismo doméstico (pão, café, fogo com água quente...); no primeiro o
predomínio das imagens visuais (relâmpagos, sóis, auroras, faíscas, incêndios,
trevas, noite e cinzas); no segundo, a alusão sensorial (fogo e quente). Nos
dois, o uso dos sentidos para transmitir o contato, tanto
ardoroso quanto ameno.
No primeiro há dois polos: o positivo de “tremor
de terra” e o negativo de “ruínas”; no
segundo, não há negatividade: pão , café e água no fogo representam o oferecimento
amoroso.
Lembremos que no poema de Adélia há ainda
outra oposição: estudo x sentimento. Ou o sentimento do gesto cotidiano de
atenção caseira x o estudo, representado pela palavra.
Aqui, outras questões: sentimentos não
precisam de palavra? são maiores do que as palavras? não cabem em palavras?
Seja lá qual for a resposta (caso exista),
sentimentos também sempre
dizem respeito a leituras
Marcus Vinicius Quiroga
P. S. De que vale a “palavra”
amor, se não há café?
legal a comparação. instigantes as reflexões. os dois são belos poemas!
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