Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam voo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhoso espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
Mário Quintana
A metaforização do texto de
Quintana pode ser relacionada com a de vários outros poemas
como As Pombas, de Raimundo Correa, ou Inspiração, de Paulo Henriques
Britto, entre muitos outros. Além, disso o “pássaro”´ faz parte de uma tradição
literária, como símbolo de liberdadee sempre carregado de significações positivas.
Neste caso, o poema é um exemplo de elevado grau de comunicabilidade. Estatisticamente
(por razões eu desconheço), o leitor mediano prefere versos livres e brancos, como se isto lhe
facilitasse a leitura e a compreensão.
Depois também aprecia as metáforas. Aqui todas se referem à mesma área semântica (pássaros, pousam, voo, alçapão, alimento) e culminam com a duplicidade de sentido de alimento ( material e imaterial, ou exterior e interior ) .
O último verso é de fato o objetivo do poema: desfazer a ideia de que a poesia está do lado de fora, de que é motivada por causas externas. Na concepção de Quintana, as palavras apenas libertam a poesia que já existe nas pessoas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário