sábado, 1 de junho de 2013





POEMA DO JORNAL

O fato ainda não acabou de acontecer
e já a mão nervosa do repórter
o transforma em notícia.
O marido está matando a mulher.
A mulher ensanguentada grita.
Ladrões arrombam o cofre.
A pena escreve.
A polícia dissolve o meeting.


Vem da sala de linotipos a doce música mecânica





    Eis um bom exemplo para nos lembrarmos das linguagens conotativa e denotativa, dizendo que, a princípio, a primeira se identifica com a linguagem poética. O título nos remete para o jornal e seu discurso objetivo, voltado para a informação, portanto, trata-se de um texto que se deseja compreensível e, de preferência, da mesma forma por todos. Já a poesia nem sempre se quer compreendida e,se o for, não o será de formas diferentes por diferentes leitores.

     Na primeira estrofe, há quatro versos que correspondem a manchetes de primeira página. Com exceção da conjunção “e”, não há conetivos. Os versos se sucedem curtos e informativos. Só no último verso aparece a metáfora “a doce música mecânica”, com sutil oposição entre doce e mecânica.Aqui temos a “intervenção poética” do autor em um texto basicamente denotativo.

    Queremos mostrar com isto que às vezes basta uma metáfora (mudança de sentido, pois linotipos não produzem música) para criarmos um poema.     


                    Marcus Vinicius Quiroga

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