CECÍLIA MEIRELES
Canção
Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio…
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio…
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
Poema simples,
com título mais do que simples, com 5 quartetos, rimados normalmente (adjetivo
com adjetivo, verbo com verbo...).
Ou seja, nada de mais.
Vejamos, entretanto, outros aspectos do texto:
1 – A relação do abstrato e do concreto: sonho e navio
2 – As imagens como “mãos molhadas do azul”
3 – A sonoridade de “e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.
colore as areias desertas.
4 – A escolha de uma área semântica para metaforização:
navio, mar, ondas, naufragar, molhadas, praia, águas, fundo, areias
5 – O final em que se dá estranhamento de “tudo estar
perfeito”
coincidir com as ”duas mãos quebradas”.
Exercícios
1 – Fazer poemas com:
a) a fusão do abstrato com o concreto (1)
b) o uso da aliteração (3)
c) a definição de uma área semântica para as imagens
(4)
d) a quebra do
lirismo pela força da imagem final como
“meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.”
e as minhas duas mãos quebradas.”
Marcus Vinicius Quiroga