quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

RITMO, UM EXEMPLO DE



Canção para Cecília

Cecília
marulha mergulha
ondeia
sussurra cicia
nos versos, nos ais
Poeta desmata
desvenda reata
mistérios palavras
o isso ou aquilo
o pouco e os demais.
Cecília do mar
fôlego do ar
se faz natureza
marulha mergulha
sussurra cicia
Cecília que paz?
Luta Cecília
luares pesares
história passado
desata que nós?
Cecília
marulha mergulha
ondeia
sussurra cicia
censura procria
nos versos, ais.


Rita Moutinho


Muitas vezes quando pensamos no ritmo de um poema, lembramo-nos apenas da métrica, do número exato de sílabas e das pausas, como se não houvesse ritmo no verso livre. Nesta homenagem à poeta Cecília Meireles, que, entre outras características, marcou sua obra pela intensa e particular musicalidade, Rita Moutinho deu-nos um belo poema, em que o ritmo, para fazer jus à homenageada, é fundamental.
Aqui temos basicamente versos em redondilha menor, que, a exemplo da redondilha maior (sete sílabas), são sempre usados em canções populares, justamente por seu ritmo mais marcado. Observemos, então, quais os recursos de que o autor dispõe para valorizar a construção rítmica do texto, para torná-la mais lenta ou mais acelerada. No caso, os versos curtos (cinco sílabas) criam uma leitura cadenciada e mais veloz, como se o poema tivesse que ser dito de um fôlego só.
Versos curtos, palavras curtas, repetições, rimas, pontuação, tudo serve para determinar o ritmo de um texto. E até em um poema de versos livres, a alternância de números de sílabas e a disposição das palavras no espaço em branco da página orientam a leitura e, consequentemente , o ritmo.
Como Manuel Bandeira chamou a atenção, todo poema tem ritmo, e a diferença está na intenção e na utilização das palavras e das medidas para a que ele seja obtido e tenha este ou aquele efeito.

Marcus Vinicius Quiroga

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