Tu, Místico
Tu, místico, vês uma significação em todas as cousas.
Para ti tudo tem um sentido velado.
Há uma cousa oculta em cada cousa que vês.
O que vês, vê-lo sempre para veres outra cousa.
Para mim, graças a ter olhos só para ver,
Eu vejo ausência de significação em todas as cousas;
Vejo-o e amo-me, porque ser uma cousa é não significar nada.
Ser uma cousa é não ser susceptível de interpretação.
Alberto Caeiro
No dia do aniversário de Fernando Pessoa, nada melhor do que um texto seu para reflexão. Este é de Alberto Caeiro, heterônimo, de extrema coerência e de particular lógica, que trata de um tema de sua predileção: a significação.
As palavras são o que significam ou o que interpretam que elas sejam? Se na política nacional há a famosa história do fato e da versão. na vida também temos versões, e não fatos. E na literatura temos interpretações, sempre no plural. Porque são múltiplas as leituras, as ideologias que se aproximam (e se apropriam) do texto, e as interpretações segundo este ou aquele interesse.
Para Nietzsche, interpretação é sempre uma questão de interesse. Seja lá de que ordem for.
Daí ser susceptível de interpretação é deixar de ser, é ser capturado pela leitura alheia, pela alheia versão, pela alheia parcialidade.
Se lembrarmos que parcialidade vem de parte, toda interpretação é a visão de uma parte, visto que o todo sempre nos escapa.
Párea mestre Caeiro, ser não significa, ser é.
Nenhum comentário:
Postar um comentário