segunda-feira, 13 de junho de 2011

INTERPRETAÇÕES, SEMPRE NO PLURAL



Tu, Místico

Tu, místico, vês uma significação em todas as cousas.
Para ti tudo tem um sentido velado.
Há uma cousa oculta em cada cousa que vês.
O que vês, vê-lo sempre para veres outra cousa.

Para mim, graças a ter olhos só para ver,
Eu vejo ausência de significação em todas as cousas;
Vejo-o e amo-me, porque ser uma cousa é não significar nada.
Ser uma cousa é não ser susceptível de interpretação.

Alberto Caeiro





No dia do aniversário de Fernando Pessoa, nada melhor do que um texto seu para reflexão. Este é de Alberto Caeiro, heterônimo, de extrema coerência e de particular lógica, que trata de um tema de sua predileção: a significação.
As palavras são o que significam ou o que interpretam que elas sejam? Se na política nacional há a famosa história do fato e da versão. na vida também temos versões, e não fatos. E na literatura temos interpretações, sempre no plural. Porque são múltiplas as leituras, as ideologias que se aproximam (e se apropriam) do texto, e as interpretações segundo este ou aquele interesse.
Para Nietzsche, interpretação é sempre uma questão de interesse. Seja lá de que ordem for.
Daí ser susceptível de interpretação é deixar de ser, é ser capturado pela leitura alheia, pela alheia versão, pela alheia parcialidade.
Se lembrarmos que parcialidade vem de parte, toda interpretação é a visão de uma parte, visto que o todo sempre nos escapa.
Párea mestre Caeiro, ser não significa, ser é.

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