quinta-feira, 2 de junho de 2011

O REGISTRO COLOQUIAL E A IRONIA

Sonetilho de verão


Traído pelas palavras.
O mundo não tem conserto.
Meu coração se agonia.
Minha alma se escalavra.
Meu corpo não liga não.
A idéia resiste ao verso,
o verso recusa a rima,
a rima afronta a razão
e a razão desatina.
Desejo manda lembranças.


O poema não deu certo.
A vida não deu em nada.
Não há deus. Não há esperança.
Amanhã deve dar praia.

Neste poema temos o uso de registros diferentes para que que ocorra um choque,um estranhamento. A linguagem coloquial já não é há muito tempo novidade na poesia, mas o convívio de diferentes registros é a causa do novo neste texto. A expressão popular final, típica do linguajar carioca, estabelece um distanciamento irônico em relação ao que foi dito acima. De afirmações graves como "o mundo não tem conserto" ou "meu coração se agonia" o poema chega a um final inesperado com "amanhã deve dar praia". Não é só o discurso coloquial que interrompe questões existenciais sérias, mas a mudança de interesse: a possiblidade de praia,isto é,de prazer imediato, físico, possível no lugar de respostas a questões de ordem metafísica,e talvez inalcançáveis.

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