segunda-feira, 6 de junho de 2011

POESIA E ESCOLHA

CONVERGÊNCIA


não é só a folha
que escolhe
o poema

também a pena
escolhe
o tema
as palavras

não é só a folha
que a pena
ara

também a palavra
cava fundo
e esbarra
no sentido

não é só o silêncio
que escolhe
o poeta

também no não dito
ele
se espelha

todo poema olha
o mundo
de um modo

não há texto
que não seja feito de escolha

Bernado Campos


Todo texto é feito de escolhas paradigmáticas e sintag-máticas, como se dizia. Todo texto é um recorte (e poderia ser outro), logo nos faz olhar para uma determinada direção (e não para outras) e pensar em certas coisas (e não em outras).
Cada palavra em si já é uma escolha. E na poesia, mais do que na prosa, ela tem mais razões para estar ali naquele lugar do texto.
Toda palavra é histórica. Toda escolha também.
Para o leitor de formação mais sincrônica, a percepção diacrônica do mundo é mais difícil. Ele só lê o texto no momento, como se as palavras não estivessem ali há muito tempo. Quem não olha para o antes da palavra, não lhe percebe o sentido.
As escolhas não são só sincrônicas, elas têm um pretéri-to, uma raiz. Querer compreender o texto pensando só no momento presente é não querer compreendê-lo.
Leitores sincrônicos normalmente andam em círculos e não se dão conta das razões que os levam a não sair do lu-gar. Associações erradas os conduzem a interpretações erradas.
Todo texto responde por suas escolhas. Do mesmo modo o leitor.
Os acasos diminuem na relação direta do crescimento das escolhas. E se algo se repete com frequência, é sinal de que a repetição não é por acaso.
Não há tanto “destino”, quando há mais escolhas.
Com a sucessão histórica de escolhas o poeta constrói sua casa; outros, o vazio.
Do lado de fora, tudo é espelho.


Marcus Vinicius Quiroga

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