domingo, 10 de agosto de 2014

DIA 5  (Ruy Maurity)

Numa noite clara, clara e macia
Quase madrugada, na beira do dia
O garçom atento, mal acostumado
Do lado de dentro, sempre de um lado
Você me querendo mais do que eu preciso
Mais do que eu entendo

Do lado de dentro, sempre à mesma hora
Na mesa do centro, do lado de fora
Eu queria tanto, precisava tanto
Pois sabia quanto eu não tinha nada
Quase madrugada calma e macia
Minha camarada.

Não sei, talvez amanhã eu não sou mais eu
De manhã nada aconteceu, aconteceu
Vejo a ilha rasa longe no oceano
Cada um pra casa com o seu engano

Rua tão vazia, vamos de mão dada
Na volta do dia, na volta do nada
O garçom sorrindo, já mudou a roupa
Mais um dia findo. 


Observemos a identificação de tempo (noite clara, madrugada, de  manhã, dia findo) e espaço (do lado dentro, na mesa do centro, pra casa, rua tão vazia) para situar o encontro de um casal. No entanto, é um texto de sugestões,que foge à mera descrição.  Temos o segundo momento da letra na terceira estrofe com os versos “Não sei, talvez amanhã eu não sou mais eu  De manhã nada aconteceu, aconteceu” , cuja força está nesta negação/afirmação. Que tal agora fazermos um poema com uma linguagem elíptica, dizendo e escondendo algo ao mesmo tempo?

Marcus Vinicius Quiroga



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