Durante séculos, a pintura só era vista frente a frente, nos museus, nas galerias ou nas casas dos colecionadores. Depois surgiram as fotografias em livros e as reproduções. E mais recentemente os museus da internet. Isto significa que durante muito tempo os quadros eram apreciados por um número bastante reduzido de pessoas. A pintura era uma arte para poucos.
No século XX, revistas e jornais tornaram alguns quadros mundialmente conhecidos, ainda que não vistos, como a Mona Lisa, O grito, Os girassóis de Van Gogh ou os pescoços de Modigliani, por exemplo. Livros de arte, slides, vídeos, tudo colaborou para uma divulgação da pintura e a criação de um público maior. E assim aumentou-se o número de apreciadores de pintura, sendo pequeno ainda o número de consumidores, uma vez que um quadro é n vezes mais caro do que um cd ou um livro.
A poesia, ao contrário, desde o início da publicação de livros, vem ocupando as estantes dos leitores, que não precisam sair de casa e ir a um museu, para ter contato com esta arte. Jornais, revistas, declamações e espetáculos divulgaram o texto poético. E hoje em dia temos também blogs, sites e gravações a serviço do poema. Não há dúvida de que nunca se “publicou” tanta poesia quanto hoje, no entanto...
Dizia Mário Quintana que só poeta lia outro poeta. Blague à parte, há muitos poetas que nem leram os grandes poetas de sua língua, mas escrevem e escrevem. Na prática, temos um número elevado de edições de livros de poesia, não de leitores.
Drummond, o poeta-referência de nossa literatura, está sendo reeditado e cada livro seu terá 3.000 exemplares. Se pensarmos que no momento um livro de um autor religioso ultrapassou a marca de 7 milhões de exemplares, algo não vai bem com a poesia. O fato é que mal distribuído e mal divulgado, o livro de poesia é pouco lido.
Vai aqui a pergunta. Não criaria a poesia, por suas características, uma distância normal com o leitor médio? Este, sabidamente, prefere narrativas a abstrações, velocidade de leitura à profundidade, descrições a metaforizações, “realismos” a sugestões etc
Ou seja, não seria da natureza (argh!) da poesia a circulação por poucos olhares? Letra de música - não poesia - pode ser pop, isto mesmo, popular. Se um poeta de livro didático como Drummond e que foi o mais interpretado nas páginas dos vestibulares do Rio (talvez do país) tem 3.000 exemplares, um poeta reconhecido (mas menos famoso ) tem 1.000; e um iniciante, 300 ou 200. Esta é a verdade.
Façamos enfim a aproximação com a pintura. Por que esperarmos que um livro de poesia seja lido por 2 milhões de leitores? Por que não aceitarmos que ele entre em contato só com 150 ou mesmo 80 leitores, como de fato acontece?
A mídia da música ou do cinema não é a mesma das artes poética e plástica, portanto as expectativas de público devem ser bem diferentes. Não seria a poesia, como a pintura e a escultura, aquele biscoito fino (como disse Oswald de Andrade) que permanecerá biscoito fino, sem jamais ser massificado? Quantas pessoas você realmente conhece que frequentam galerias de arte? E quantas que vão a cinemas ou a shows de música?
Ter um público pequeno talvez não seja a fatalidade, mas o destino, da poesia. E não devemos, escritores, professores, críticos e editores, nos lamentar. E, sim, ler um poema com o carinho e o tempo que um quadro também merece. Para um livro editado em pequena escala uma leitura artesanal.
Marcus Vinicius Quiroga
Além da concorrência com outras mídias, a poesia se acha fora da grande mídia. A poesia contemporânea que o povo curte é a letra de música, que toca no rádio. Em geral,o cancioneiro romântico, que possui uma ou duas imagens de criatividade poética e que, no mais, limita-se ao lugar-comum e ao emocionalismo repetitivo. A letra musical termina por satisfazer a necessidade poética do homem mediano que, de fato, tem dificuldade em decifrar o hermetismo de boa parte da produção contemporânea. Seja como for, vejo como vc. Hoje não acho que valha muito a pena sofrer por isso. O importante é fazer o nosso trabalho, que atende, antes de tudo, à necessidade de seu criador. O prazer que dá, a sensação de insight, de descoberta, quando sentimos que "acertamos" ao criar determinado poema já é em si, supergratificante. Claro que se depois vier aplauso e reconhecimento, melhor. Porém, de fato, não é o mais importante. Abcs, Ricardo Alfaya.
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