segunda-feira, 19 de março de 2012


PONTEIO Capinam

Era um, era dois, era cem
Era o mundo chegando e ninguém
Que soubesse que eu sou violeiro
Que me desse o amor ou dinheiro...
Era um, era dois, era cem
Vieram pra me perguntar:
"Ô voce, de onde vai
de onde vem?
Diga logo o que tem
Pra contar"...
Parado no meio do mundo
Senti chegar meu momento
Olhei pro mundo e nem via
Nem sombra, nem sol
Nem vento...
Quem me dera agora
Eu tivesse a viola
Pra cantar...(4x)
Pra cantar!
Era um dia, era claro
Quase meio
Era um canto falado
Sem ponteio
Violência, viola
Violeiro
Era morte redor
Mundo inteiro...
Era um dia, era claro
Quase meio
Tinha um que jurou
Me quebrar
Mas não lembro de dor
Nem receio
Só sabia das ondas do mar...
Jogaram a viola no mundo
Mas fui lá no fundo buscar
Se eu tomo a viola
Ponteio!
Meu canto não posso parar
Não!...
Quem me dera agora
Eu tivesse a viola
Pra cantar, pra cantar
Ponteio!...(4x)
Pontiarrrrrrrr!
Era um, era dois, era cem
Era um dia, era claro
Quase meio
Encerrar meu cantar
Já convém
Prometendo um novo ponteio
Por Certo dia que sei
inteiro
Eu espero não vá demorar
Esse dia estou certo que vem
Digo logo o que vim
Pra buscar
Correndo no meio do mundo
Não deixo a viola de lado
Vou ver o tempo mudado
E um novo lugar pra cantar...
Quem me dera agora
Eu tivesse a viola
Pra cantar
Ponteio!...(4x)
Lá, láia, láia, láia...
Lá, láia, láia, láia...
Lá, láia, láia, láia...
Quem me dera agora
Eu tivesse a viola
Pra cantar
Ponteio!...(4x)
Pra cantar
Pontiaaaaarrr!...(4x)
Quem me dera agora
Eu tivesse a viola
Pra Cantar!



A música vencedora do Festival da Record de 67 trazia no título uma palavra pouco comum na metrópole paulista e, de certa forma, estava no lado oposto ao das guitarras e inovações de arranjos de Domingo no Parque e Alegria, Alegria. Ponteio era uma continuidade, tanto na música quanto na letra, da MPB, só que com mais qualidade. Edu Lobo e Capinam, ainda jovens, já faziam parte do primeiro time de nossa música.
Permito-me aqui uma digressão. Os anos 60 na MPB representaram um salto qualitativo infelizmente jamais repetido na história de nossa música.
Se Ponteio trazia a viola (e não a guitarra do rock), mantendo diálogo com a tradição musical e literária, isto não significava que a letra significasse continuísmo ou acomodação. As aparências (e até muitas essências) enganavam e enganam.
O verbo pontear tinha conotações de resposta e resistência e a viola podia ser vista como uma arma para enfrentar a violência da época. Reparemos que esta violência aparece diversas vezes na letra (Senti chegar meu momento/violência/era morte redor mundo inteiro/ tinha um que jurou me quebrar). Nesta linha, faz-se referência ainda a “um dia” em que o mundo teria mudado (melhorado): “Certo dia que sei por inteiro/ Eu espero não vá demorar/ Esse dia estou certo que vem /Digo logo o que vim / Pra buscar/ Correndo no meio do mundo/ Não deixo a viola de lado/Vou ver o tempo mudado/E um novo lugar pra cantar...”
A viola nacional encontra-se em 67 a serviço da utopia, da esperança de um mundo mais justo. Para tanto o livre-arbítrio e a iniciativa se faziam necessários, como vemos talvez nos versos mais incisivos da canção: “ Jogaram a viola no mundo/
Mas fui lá no fundo buscar/ Se eu tomo a viola/Ponteio!/ Meu canto não posso parar”. Se formalmente falando, Alegria, alegria, era mais inovadora, ainda trazia as marcas do sistema (coca-cola ,casamento, televisão) contra as quais ela sugeria ir contra.
Ponteio foi, portanto, a vitória da esperança e da determinação que viola e pontear simbolicamente significavam (significam).

Marcus Vinicius Quiroga

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