Tecendo a Manhã
1.
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
2.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
João Cabral de Melo Neto
Embora Cabral fizesse questão de dizer que não gostava de música, usou exaustivamente na segunda parte do poema a alietração do fonema /t/. Faça um poema em que haja o recurso da aliteração (repetição de um fonema consonantal) com finalidade expressiva.
OFICINA DE POESIA MARCUS VINICIUS QUIROGA 7 de agosto 2012
ResponderExcluirEmbora Cabral fizesse questão de dizer que não gostava de música, usou exaustivamente na segunda parte do poema a aliteração do fonema /t. Faça um poema em que haja o recurso da aliteração (repetição de um fonema consonantal) com finalidade expressiva.
1 - Ao ouvir o Duo-preludio Música de Arthur Verocai, sua musica lembrou-me o som dos ventos e pesquisei palavras com v para fazer esta poesia. Aliteração do fonema /v/.
O TEMPO DOS VENTOS
Duo-preludio Música de Arthur Verocai
Tempo vem
vem contar das buscas,
olvidar.
As lembranças a bailar,
convidam ao sonho.
Asas livres a voar.
Procurar nova rota.
Abrir portas ou saídas.
Vento vem rodopiar,
vislumbrar entre frestas
a manhã deslizando no ar.
Belezas a vagar
no ar suas luzes
transparências
Quem sabe alcançar
caminhos libertos
onde sombras
serão apenas borboletas
a bailar no ar.
Ventania ao luar
coreografia de folhas.
Fugaz como a vida,
fugitiva do tempo,
vem faz-me companhia
nestas horas frias,
quando me deixo levar.
Entrelinhas onde revivo
colhendo na poesia
saudades e magia.
Brisa sacode a chama,
vivências do tempo
vaidades expostas
vitrines.
Frágeis os vidros
permeiam a luz,
que segue seu rumo
como o vento.
Verão traz vento quente,
embaça vidraças
e verga árvores.
Varre as folhas outonais
como luz segue vadio
deixando nossos espelhos
Mostruários de ilusões
volúveis transparências.
como o tempo
vara a vida.
Tempo dos vulcões,
Violento, voraz,
vidros a vibrar,
estilhaçando
na voz do vento.
varandas de vidro,
beleza espalhada nos vitrais
Vem tempo
revelar verdes vales.
Ainda procuro
meu tempo vital
cheio de desejos
inexplorados.
Parto, busco,
descubro novo veio
no silvar do vento livre,
música no ar.
Como os frágeis
cacos de vidros,
dançam ao sabor do vento.
Na visita do tempo
verte velho vinho
nos copos vazios.
Versos vesperais
vestígios de amor
paixões invisíveis
relembradas,
trazidas pelo vento.
O tempo despede-se
das violetas embriagadas
no jardim da vida.
Juçara R. V. Valverde
Reescrita em 28 de abril de 2009
2 - Aliteração do fonema /ai/ e /assi/.
PRESSÁGIO
Ai de mim que por ti espero
e ainda vivencio tuas ausências
ora aio de meus queixumes
hoje airoso em outras querências
outrora assimilei a pausa
fiz doce de aipim
mas mesmo assim pressinto o fim.
3 - Aliteração do fonema / orta/
FLORAÇÃO
Quando bateu a porta
fiz da lembrança que entorta
jogo que vence horas mortas
e as ilusões aborta.
Deixei o que a faca corta
florir na minha horta.
Juçara Valverde
7 de agosto de 2012