Sempre digo que normalmente o leitor (e, portanto,
o escritor) não pensa muito na estrutura sintática da obra. E reconheço que é
difícil ser inovador sintaticamente, a ponto de criar marcas estilísticas.
Basta fazer a pergunta: Quantos poetas você reconhece pela sintaxe?
Ouvindo duas canções com Renato Teixeira,
prestei atenção a versos que trazem a ideia de causa. Em Romaria, de sua autoria, diz “Como
eu não sei rezar / Só queria mostrar/Meu olhar, meu olhar/ Meu
olhar”. E em Tocando em frente, em parceria com Almir
Sater, temos “Ando devagar/porque já tive pressa”.
Na primeira, os versos são o desfecho da
letra e a oração causal inicia o período, tendo, pois, papel de destaque: o
fato de não saber rezar se sobrepõe ao de olhar. Já na segunda, os versos
iniciam a canção e a oração causal vem depois da principal. Então o fato de andar
devagar merece mais nossa atenção do que a causa de já ter tido pressa. Lembremo-nos
de que sintaxe diz respeito à ordem. Se naquela a sua luz evidencia a ausência
da reza, nesta, o modo vagaroso de “andar”.
Como sabemos, toda ideia de causa traz implícita
a de consequência e vice-versa, o que explica a troca costumeira em salas de
aula das
duas ideias. Já, fora das salas, o que mais vemos é a dificuldade de
reconhecimento da causa, como se os fatos das orações principais ocorressem
soltos no ar.
Em Tocando em frente, a antítese
devagar-pressa explica a relação de causalidade de forma curiosa: a causa de
alguma coisa é o seu oposto. Diria ainda que vale a pena pensar sobre a causa,
seja no início ou no final do período, pois, sem ela, paramos no reconhecimento
dos fatos, mas não fazemos o seu entendimento.
Marcus
Vinicius Quiroga
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