quinta-feira, 1 de agosto de 2013

O DITO E O NÃO DITO


                                                     CHICO BUARQUE




OLHOS NOS OLHOS

Quando você me deixou, meu bem,
Me disse pra ser feliz e passar bem.
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci,
Mas depois, como era de costume, obedeci.
Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer.
Olhos nos olhos,
Quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais
E que venho até remoçando,
Me pego cantando, sem mais, nem por quê.
Tantas águas rolaram,
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você.
Quando talvez precisar de mim,
Você sabe que a casa é sempre sua, venha sim.
Olhos nos olhos,
Quero ver o que você diz.
Quero ver como suporta me ver tão feliz.

 

ATRÁS DA PORTA


Quando olhaste bem nos olhos meus,
E o teu olhar era de adeus.
Juro que não acreditei.
Eu te estranhei, me debrucei, sobre teu corpo,
E duvidei, e me arrastei, e te arranhei,
E me agarrei nos teus cabelos, nos teus pelos,
Teu pijama, nos teus pés, ao pé da cama,
Sem carinho, sem coberta,
No tapete atrás da porta,
Reclamei baixinho.
Dei pra maldizer o nosso lar,
Pra sujar teu nome, te humilhar,
E me vingar a qualquer preço.
Te adorando pelo avesso.
Só pra mostrar que ainda sou tua.
Até provar que ainda sou tua.



  
   Nas duas letras de Chico Buarque vemos que o dito esconde o seu oposto. O eu poético feminino, ao se dirigir ao ex-amado (ou amado), mostra nas entrelinhas dizer o contrário do que está escrito. Na segunda letra, o verso “te adorando pelo avesso”, desvenda o real sentido dos seus atos, pois negar alguém (ou algo) é ainda uma forma de valorizá-lo.
   Feita a leitura das letras, faça um texto em que o enunciado traia ou esconda a sua verdadeira intenção.

     

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