segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O DIZER E O COMO DIZER

João Cabral de Melo Neto

TECENDO A MANHÃ

1

Um galo sozinho não tece uma manhã:
 
ele precisará sempre de outros galos.
 
De um que apanhe esse grito que ele
 
e o lance a outro; de um outro galo
 
que apanhe o grito de um galo antes
 
e o lance a outro; e de outros galos
 
que com muitos outros galos se cruzem
 
os fios de sol de seus gritos de galo,
 
para que a manhã, desde uma teia tênue,
 
se vá tecendo, entre todos os galos.

2

E se encorpando em tela, entre todos,
 
se erguendo tenda, onde entrem todos,
 
se entretendendo para todos, no toldo
 
(a manhã) que plana livre de armação.
 
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
 
que, tecido, se eleva por si: luz balão.
 ~

   Neste poema temos a temática social e a linguagem trabalhada ao mesmo tempo, o que nem sempre ocorre. Muitos poetas, quando privilegiam um tema social ou político, descuidam-se da linguagem, por acharem que o conteúdo basta.
   Faça um texto em que o tema (como em Tecendo a manhã) seja fundamental, mas que apresente também um cuidado com a os aspectos formais.



Marcus Vinicius Quiroga

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