AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA
O MORTO CRESCE
O morto
cresce estranhamente, logo que morre.
A barba
brota-lhe no rosto
e as unhas se
alongam.
O morto
cresce em nossa mente.
Súbito,
recrudesce o afeto
ampliam-se as
lembranças,
dilata-se a
biografia
nas conversas
e jornais.
O morto,
antes de morrer completamente
instala-se no
nosso espanto
iludindo a
própria morte.
Depois, a
urgência da vida
toma conta de
nossos dias
e o morto se
conforma
encolhe-se
e fica
amortecido num canto da memória
até morrer de
novo
dentro de
nossa morte.
Aqui temos o verbo morrer indicando a morte material
e a imaterial (que ocorre dentro dos outros). Pense em
outro verbo que possa ter os dois sentidos (material e
imaterial) e faça seu poema.
Marcus Vinicius Quiroga
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