segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

ÁLBUM SEM FAMÍLIA, O NOVO LIVRO DE RICARDO ALFAYA



                                        RICARDO ALFAYA


FOTO 085: FECHA-SE O DIAFRAGMA

Baixa-se a tampa:
pela última vez,
contempla-se a estampa do corpo morto.
Caixão: definitiva câmara,
derradeira foto de uma cara.
Final de espetáculo,
em que todo o mundo vira palhaço,
em bizarro palco coberto de flores
(inútil pedir bis).
Despetalam-se as dores,
desatam-se da família os laços.
O patético final de ato
deixa tudo e todos em pedaços.
Na urna, o estranho e extremo voto:
um rígido rosto,
a imagem de santinho,
que todo o cadáver tem.
Real e viva, a foto exclusiva
para quem ao cemitério vem.
Imagem dura e fria,
que nunca fará parte
do álbum de família.


   No poema, retirado do livro Álbum sem família, há a quebra
da expectativa, como no título, uma vez que a família se
ausentou do álbum. Reparemos que as imagens são feitas
com o vocabulário relativo à fotografia, dando unidade ao livro:
diafragma, tampa, estampa, câmara, imagem, foto....
   Faça um poema em que haja a mudança de uma expressão
consagrada, como álbum de família; e que esta mudança
represente uma crítica.





Marcus Vinicius Quiroga

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