RICARDO ALFAYA
FOTO 085:
FECHA-SE O DIAFRAGMA
Baixa-se a
tampa:
pela última
vez,
contempla-se a
estampa do corpo morto.
Caixão:
definitiva câmara,
derradeira
foto de uma cara.
Final de
espetáculo,
em que todo o
mundo vira palhaço,
em bizarro
palco coberto de flores
(inútil pedir
bis).
Despetalam-se as
dores,
desatam-se da
família os laços.
O patético
final de ato
deixa tudo e
todos em pedaços.
Na urna, o
estranho e extremo voto:
um rígido
rosto,
a imagem de
santinho,
que todo o
cadáver tem.
Real e viva, a
foto exclusiva
para quem ao
cemitério vem.
Imagem dura e
fria,
que nunca fará
parte
do álbum de
família.
No poema,
retirado do livro Álbum sem família,
há a quebra
da expectativa,
como no título, uma vez que a família se
ausentou do álbum.
Reparemos que as imagens são feitas
com o
vocabulário relativo à fotografia, dando unidade ao livro:
diafragma, tampa,
estampa, câmara, imagem, foto....
Faça um poema
em que haja a mudança de uma expressão
consagrada,
como álbum de família; e que esta mudança
represente uma
crítica.
Marcus
Vinicius Quiroga
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