sexta-feira, 1 de outubro de 2010

O VERSO LIVRE


    Os anos 20 oficializaram o verso livre em nossa literatura. E, de lá para cá, com exceção da geração de 45, ele tem predominado sobre o verso metrificado. Especialmente, se levarmos em conta os livros dos poetas que publicam por editoras pequenas e médias, e que não fazem parte da literatura “visível” do país.
   Diríamos que o verso livre é uma das muitas conquistas feitas pelo Modernismo, mas, como várias outras, nem sempre foi bem entendido, pois fazer da liberdade métrica obrigação é, no mínimo, um paradoxo. Ignorar a métrica em nome da “modernidade” é uma atitude ingênua, que, muitas vezes, só revela preguiça e falta de estudo, porque é mais cômodo adotar o verso livre, principalmente por não se conhecer as regras de metrificação.
    Lembremo-nos da advertência de Manuel Bandeira de que o versilibrismo não era tão “livre” assim. Ou seja, ele quis dizer que o verso livre também exige estudo e aprimoramento. Mas a leitura de vários livros em versos livres nos faz pensar que poucos ouviram o Bandeira. Diríamos até que há “poemas” que se pensam poemas, só por terem frases dispostas verticalmente 
    Ao lado do verso livre, o verso branco tornou-se também bastante frequente. Vejamos o exemplo de Carlos Drummond de Andrade, poeta que se inicia nos anos 20 e faz parte da geração de 30. A maioria de seus poemas é feita com versos brancos e livres, no entanto Drummond dominava a técnica da métrica e usou a rima quase sempre de forma bem mais criativa do que outros poetas que a adotaram como regra.
    Logo, a questão não é apenas de metrificar ou não, rimar ou não. A qualidade do texto depende de uma soma de realizações estéticas, e não se restringe a esta ou àquela característica. O poema não pode ser depreciado por ter versos livres ou metrificados, pois o uso ou não da métrica é opção expressiva do poeta.
    Esperemos, sim, que o versilibrismo ou a métrica estejam a serviço da causa poética e que a escolha se deva  à necessidade literária, e não a uma regra, a um modismo, ou a uma visão preconceituosa.
    Recomendaríamos aos poetas que estudassem a métrica e que a usassem, para depois escolherem. A “proibição” dos versos livres ou metrificados nos parece um equívoco, que só traz prejuízos à compreensão da boa poesia brasileira.

                                                   Marcus Vinicius Quiroga

Um comentário:

  1. Você tem toda a razão, Marcus:
    A poesia, muitas vezes, parece um rio de duas margens onde uma não se comunica com a outra, onde um lado julga o outro como risível e menor. E, no entanto, os dois lados são margens do mesmo rio.

    É preciso promover esse intercâmbio.

    Há qualidade e falta de qualidade em ambas as margens, por esse ou aquele ser que se proclama "poeta". Há versos rebuscados e vazios, com rimas pobres ou colocadas ali como quem enfia um camelo por uma agulha, literalmente.
    Há os versos livres e vazios, tão brancos que são quase invisíveis e desnecessários, escritos para agradar esse ou aquele, ou apenas usados pelo poeta para mostrar que ele acaba de "descobrir" uma nova fórmula de expressão, ou que acaba de fundar uma nova "escola" poética.

    Enfim, equívocos; e no final das contas, você de novo tem razão em dizer que um dos motivo é falta de leitura ou o excesso de preguiça.

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