GRAAL
Há uma outra leitura
dentro de cada poema.
Não se contente nunca
com um sentido apenas.
Há na superfície mesmo
escondida nas obviedades,
nas tônicas, nos termos,
nas vírgulas, na sintaxe,
uma pulsação que exala
o mistério das sensações,
uma alguma outra fala
que salta de formas e sons.
Sentidos muitos se tramam
em teias, em redes, impulso
onde o que nos humana
goza ao tocar o oculto.
Eduardo Tornaghi
Muitos textos permitem vários níveis de leitura, que acontecerão de acordo com o repertório (em seu sentido mais amplo) do leitor.Nenhuma leitura de um bom texto é total e definitiva, o que justifica as releituras feitas no dia seguinte ou daí a dez anos. Falamos em bom texto, sabendo que este adjetivo “bom” guarda em si muita subjetividade e circunstância.
Geralmente textos mais elaborados e sofisticados exigem as releituras, porque contêm esta “alguma outra fala”, estes sentidos cifrados e ocultos. Isto não quer dizer que textos mais herméticos sejam melhores do que os menos. A questão da comunicabilidade não é o bastante para definir a qualidade.
Grande sertão:veredas é um texto difícil, mas não por ter significados escondidos. Seu enredo, aliás, é bastante simples e nos remete à tradição de histórias de violência no interior do país, com seus coronéis e jagunços.Sua complexidade é de outra ordem que não a narrativa.
Clarice Lispector, por sua vez, usou um vocabulário simples e pequeno para fazer uma obra com profundidade. Damos estes dois exemplos para mostrarmos que o tema da comunicabilidade do texto é muito rico e merece muito mais discussão. No momento, queremos falar dos “sentidos muitos que tramam em teias e redes”.
Noel Rosa, que faria cem anos agora, já disse em Feitio de oração que “samba não se aprende no colégio”. Bem, algumas coisas se aprendem; outras, não. Como fazer um texto repleto de sentidos, como elaborar redes de significados, como fazer obras polissêmicas, talvez não. Mas a boa e intensa leitura talvez nos habilite para isto, caso seja o nosso propósito.
Há escritores que gostam de escrever nas entrelinhas e, do outro lado, leitores que apreciam esta leitura, este decifrar de intenções. Caso você seja um deles, leia o texto do Tornaghi (e o livro Matéria de rascunho, do qual extraímos o poema) e releia outros, que sempre encontrará índices, pistas, sutilezas, espelhos, analogias.
Marcus Vinicius Quiroga
Há uma outra leitura
dentro de cada poema.
Não se contente nunca
com um sentido apenas.
Há na superfície mesmo
escondida nas obviedades,
nas tônicas, nos termos,
nas vírgulas, na sintaxe,
uma pulsação que exala
o mistério das sensações,
uma alguma outra fala
que salta de formas e sons.
Sentidos muitos se tramam
em teias, em redes, impulso
onde o que nos humana
goza ao tocar o oculto.
Eduardo Tornaghi
Muitos textos permitem vários níveis de leitura, que acontecerão de acordo com o repertório (em seu sentido mais amplo) do leitor.Nenhuma leitura de um bom texto é total e definitiva, o que justifica as releituras feitas no dia seguinte ou daí a dez anos. Falamos em bom texto, sabendo que este adjetivo “bom” guarda em si muita subjetividade e circunstância.
Geralmente textos mais elaborados e sofisticados exigem as releituras, porque contêm esta “alguma outra fala”, estes sentidos cifrados e ocultos. Isto não quer dizer que textos mais herméticos sejam melhores do que os menos. A questão da comunicabilidade não é o bastante para definir a qualidade.
Grande sertão:veredas é um texto difícil, mas não por ter significados escondidos. Seu enredo, aliás, é bastante simples e nos remete à tradição de histórias de violência no interior do país, com seus coronéis e jagunços.Sua complexidade é de outra ordem que não a narrativa.
Clarice Lispector, por sua vez, usou um vocabulário simples e pequeno para fazer uma obra com profundidade. Damos estes dois exemplos para mostrarmos que o tema da comunicabilidade do texto é muito rico e merece muito mais discussão. No momento, queremos falar dos “sentidos muitos que tramam em teias e redes”.
Noel Rosa, que faria cem anos agora, já disse em Feitio de oração que “samba não se aprende no colégio”. Bem, algumas coisas se aprendem; outras, não. Como fazer um texto repleto de sentidos, como elaborar redes de significados, como fazer obras polissêmicas, talvez não. Mas a boa e intensa leitura talvez nos habilite para isto, caso seja o nosso propósito.
Há escritores que gostam de escrever nas entrelinhas e, do outro lado, leitores que apreciam esta leitura, este decifrar de intenções. Caso você seja um deles, leia o texto do Tornaghi (e o livro Matéria de rascunho, do qual extraímos o poema) e releia outros, que sempre encontrará índices, pistas, sutilezas, espelhos, analogias.
Marcus Vinicius Quiroga
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