quinta-feira, 4 de novembro de 2010

EXERCÍCIO DE INTERTEXTUALIDADE

PENSANDO MURILO MENDES

último espasmo da lua
e os sumaríssimos suspiros.
trigonometria água lustral anjos cubistas
relógio de fogo.
algo enlouqueceu
nos pássaros do olhar.
o bonde e o violão se espandongam
rangem no sangue
entardecer do tempo.
pensamento a soabrir a pálpebra
para fora da luz
antiuniverso da matéria
sem palavras.
orfeu hidrofeu catastrândula.
entre os mortos
e a congestão nasal
passeia um sacerdote antiquíssimo
e a sábio indiferença
do abismo oval.
tudo enlouqueceu
às vésperas do sonho.
todos os telhados se evaporaram
e a infância.
restou aquele menino magro
mirando a tristeza infinita
dos meteoros sem deus.
Afonso Henriques Neto


Exercício

Leia o poema de Afonso Henriques Neto e o compare com a poética de Murilo Mendes. Diga de que forma o texto justifica a homenagem ao escritor mineiro. Este é um exemplo de intertextualidade, que poderíamos chamar (a nomenclatura não existe) de poema-homenagem, que difere da paródia, por não ter intenção crítica, e da paráfrase ou do pastiche, por não se pretender imitação. Busca, sim, usar elementos do texto (ou do autor) homenageado, valendo-se destas semelhanças para tornar presente um texto em outro, como uma reverência, uma confissão de reconhecimento literário. Pensem, pois, Murilo Mendes e Afonso Henriques Neto.

Marcus Vinicius Quiroga

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