quarta-feira, 24 de novembro de 2010

QUINTANAR, O VERBO Nº 2

QUINTANARES


Meu Quintana, os teus cantares
Não são, Quintana, cantares:
São, Quintana, quintanares.

Quinta-essência de cantares...
Insólitos, singulares...
Cantares? Não! Quintanares!

Quer livres, quer regulares,
Abrem sempre os teus cantares
Como flor de quintanares.

São cantigas sem esgares.
Onde as lágrimas são mares
De amor, os teus quintanares.

São feitos esses cantares
De um tudo-nada: ao falares,
Luzem estrelas luares.

São para dizer em bares
Como em mansões seculares
Quintana, os teus quintanares.

Sim, em bares, onde os pares
Se beijam sem que repares
Que são casais exemplares.

E quer no pudor dos lares.
Quer no horror dos lupanares.
Cheiram sempre os teus cantares

Ao ar dos melhores ares,
Pois são simples, invulgares.
Quintana, os teus quintanares.

Por isso peço não pares,
Quintana, nos teus cantares...
Perdão! digo quintanares.

Manuel Bandeira]




QUINTANAR
(verbo sugerido por Cecília Meireles)

No pomar
deste quintal
tal poeta me pus
su
pus
anagramas
palavras
que brincam de quatro cantos
tal palíndromo
que guarda
a quinta-essência
o quintanar


Tudo se desfruta
para amar
qual em poema

vale a pena
o que se quintana
e se cultiva
no pomar da folha em branco

até que a vida
nos colha
na esquina
no instante

Sandro Magno




Dando continuidade aos textos de ontem, outras referências a Mario Quintana: o conhecido poema de Bandeira, que é uma homenagem explícita, e outro, com significações mais fechadas, de Sandro Magno. Recomendamos a leitura dos 4 textos, os dois de cada postagem.


Exercícios
1 – Oficialmente não existe a classificação de texto-homenagem, mas na prática reconhecemos que há textos que não são paródias, paráfrases, estilização nem pastiche, para usar a terminologia de Affonso Romano de Sant’anna. Fiquemos, então, com a proposta de definir este texto que não critica nem copia o modelo, mas no qual percebemos a intenção de reverenciar, de dialogar com outro autor.
2 – Aprendemos nas aulas de redação e nas oficinas literárias que a repetição é um defeito, e talvez o primeiro que vemos em um texto.Agora o que dizer da repetição no poema de Manuel Bandeira: é um defeito, por falta de imaginação ou de vocabulário, ou é um recurso estilístico expressivo? Justifique sua resposta.

3 – Bandeira fez o seu Mafuá do Malungo, em que ele pôs poemas de circunstância, dedicados a amigos, por ocasião de aniversário ou algo semelhante. Discuta o valor literário de tais poemas e, depois,pense se Quintanares faz ou não parte deste mafuá.

4 – Se você tem leitura suficiente da obra de Mario Quintana, diga o que entende por este verbo quintanar.



Marcus Vinicius Quiroga

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