AS LABAREDAS E AS CINZAS
Evanescentes figuras
de meu anteontem:
houve tudo?
Nada mais haverá?
Evadem-se as labaredas fugazes do amor.
Dói a nostalgia dos planos nas madrugadas.
As cinzas dos sonhos ainda estão quentes!
Que apelo de horizontes te convencem
- mágicas certezas do amanhã-
a destruir as certezas do agora?
Rui Galanternick
Como falamos na última postagem de estrutura dual, temos hoje outro exemplo. Trata-se do poema As labaredas e as cinzas, publicado no livro Fundamental, dedicado a mim por gentileza de seu autor.
Se labaredas e cinzas se opõem, opõem-se também o pretérito houve ao futuro haverá, e as palavras amanhã e agora. Neste texto a oposição maior é a do tempo, já que a ideia da efemeridade das coisas é dada pelos adjetivos evanescentes e fugazes e pelos verbos evadir-se e destruir.
Temos, lado a lado, a insinuação do amor passageiro, que um dia acaba, desfaz-se em cinzas, e a presença dos sonhos, ainda quentes (malgrado o tempo que passou).
Curiosamente, neste poema, a mesma palavra se confronta, pois “certezas” do amanhã é a oposição para certezas do agora, o que, ao fim e ao cabo, faz de tudo incertezas. Talvez esteja aí o momento mais criativo do texto: criar um choque de sentidos com a repetição da mesma palavra.
E que todos os textos nos deem esta sensação, quando o tocamos com nossa leitura, a de que ainda estão quentes, como sinal de que seu autor saiu dali há bem pouco tempo.
Marcus Vinicius Quiroga
Marcus Vinícius.
ResponderExcluirFiquei feliz ao ler o que vc escreveu, e por ter trazido à luz este poema, um dos que eu mais gostei de haver escrito
Abraço
Rui