terça-feira, 23 de novembro de 2010

QUINTANAR, O VERBO


QUINTANAR

nada mais dura
tudo é pressa pura

tudo se acaba
se perde:
as pedras prédios impérios
só o que perdura
são as nuvens
o arco-íris e os vaga-lumes
das noites de primavera

o mais é literatura

Cairo de Assis Trindade



QUINTANA’S BAR
Num bar fechado há muitos, muitos anos, e cujas portas de aço bruscamente se descerram, encontro, quem eu nunca vira, o poeta Mario Quintana. Tão simples reconhecê-lo, toda identificação é vã. Em algum lugar - coxilha? montanha? vai rorejando a manhã.
Na total desincorporação das coisas antigas, perdura um elemento mágico: estrela-do-mar - ou Aldebarã?, tamanquinhos, menina correndo com o arco. E corre com pés de lã.
Falando em voz baixa nos entendemos, eu de olhos cúmplices, ele com seu talismã. Assim me fascinavam outrora as feitiçarias da preta, na cozinha de picumã.
Na conspiração da madrugada, erra solitário - dissolve-se o bar - o poeta Quintana. Seu olhar devassa o nevoeiro, cada vez mais densa é a bruma de antanho.
Uma teia tecendo, e sem trabalho de aranha. Falo de amigos que envelheceram ou que sumiram na semente de avelã.
Agora voamos sobre os tetos, à garupa da bruxa estranha. Para iludirmos a fome que não temos pintamos um romã. O poeta aponta-me casas, a de Rimbaud, a de Blake e a gruta camoniana.
As amadas do poeta, lá embaixo, na curva do rio, ordenham-se em lenta pavana, e uma a uma, gotas ácidas, desaparecem no poema. É há tantos anos, será ontem, foi amanhã? Signos criptográficos ficam gravados no céu eterno – ou na mesa de um bar abolido, enquanto debruçado sobre o mármore, silenciosamente viaja o poeta Mario Quintana
Carlos Drummond de Andrade
EXERCÍCIO

Leia os textos dos dois poetas que homenageiam Mario Quintana e veja as diferenças de linguagem, observando o poético e o prosaico.

Diga o que justifica o título no primeiro texto.

Faça um comentário também sobre a questão das rimas.

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