quarta-feira, 3 de novembro de 2010

REPERTÓRIO 2


PEDRO ALMODÓVAR

Desço a ladeira
dos meus sonhos
de salto alto.
Requebro bamboleante
nos paralelepípedos
de um filme real
em preto e branco.

Um dia ainda
sairei dos nervos.

Virarei Almodóvar.

Marcia Barroca


O poema Pedro Almodóvar, extraído do livro 50 poemas escolhidos pelo autor, da editora Galo Branco, mostra também a questão do repertório. Para apreciá-lo é requisito conhecer os filmes do cineasta espanhol, que tem preferência pela criação de personagens femininas fortes e trabalha sempre com excelentes atrizes. Alguns de seus filmes se aproximam do universo nelsonrodrigueano, para fazermos um paralelo didático e inicial. Na segunda estrofe temos uma referência à película Mulheres à beira de uma ataque de nervos, um de seus primeiros sucessos no Brasil.
E na última estrofe a metáfora “Virarei Almodóvar”. Ora, como entendermos esta equação? O que é ser Almodóvar? As respostas são múltiplas, mas todas saem do rico universo imagístico do cineasta, que se caracteriza pelo grotesco, pelo acúmulo, pelo kitsh, pelas questões sexuais, pela violência das imagens...
Aqui mais uma vez o leitor, para entender o texto de Márcia Barroca, precisa ter em seu repertório o conhecimento dos filmes deste diretor que vem há três décadas produzindo filmes com um estilo bastante marcante. Logo, virar Almodóvar não é o mesmo que virar Carlos Saura ou virar Buñuel, só para citarmos três cineastas espanhóis de grande importância.
Um texto, como este de Marcia, quase sempre é sobre outro texto, entendendo-se aqui a palavra texto em sentido bem amplo, o que faz com que a leitura seja também releitura.

Marcus Vinicius Quiroga

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