quinta-feira, 18 de novembro de 2010

ARTE LACRIMOGÊNEA

Rosa Rilke Raimundo Correia


Uma pálpebra,
Mais uma, mais outras,
Enfim, dezenas
De pálpebras sobre pálpebras
Tentando fazer
Das minhas trevas
Alguma coisa a mais
Que lágrimas

Paulo Leminski

Vejamos aqui o texto de Leminski como mote para se pensar sobre a literatura lacrimogênea. Muitos leitores usam as lágrimas como critério de apreciação de um texto: quando mais choram, melhor o texto.
Respeitamos, é claro, as preferências e as motivações particulares, mas, ao mesmo tempo, chamamos a atenção dos escritores para suas opções estéticas. Um texto não precisa usar um vocabulário que se refira às emoções para ser emotivo. E temos que ter cuidado para não cairmos na grandiloquencia anacrônica, no romantismo derramado, na clicherização dos sentimentos.
Um texto não deve ser feito para pálpebras, mas para olhos.

Marcus Vinicius Quiroga

Um comentário:

  1. As pálpebras que saltam, uma após a outra sobre as lágrimas do poeta são rápidas como asas que escapam diante da triste expressão de seu olhar. Amo a concisão oriental de Leminski e a terra em que ele nasceu(rsrsrsrs)
    Beijos
    Vânia

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